segunda-feira, 28 de julho de 2008

Terminal

Na semana passada tive um reencontro diferente.
Já estou habituado a voltar para minha cidade e acabar encontrando amigos que não esperava encontrar; confesso que ando displicente com minhas amizades.
Mas o reencontro da semana passada foi algo mais forte. Não encontrei ninguém. Bom, na verdade até encontrei, mas era uma massa de pessoas desconhecidas. Me deparei com um pedaço de madeira fincado no chão - também conhecido como ponto de ônibus – no terminal de uma estação de metrô.
Parado ali, já desacostumado com a eterna espera pelo 4709 que por tantos quilômetros me levou, encontrei não só aquele pedaço de madeira, mas um turbilhão de lembranças.
Parecia que eu tinha recebido um novo par de olhos, e estes tinham o poder de me levar para o passado.
Ali eu comecei a sentir o sono por ter acordado tão cedo pra ir pro cursinho, a fome e o calor daquelas 13 horas da tarde. Lembrei e me segurei para não rir de tantas piadas que parado ali escutei de um amigo. Senti a mão da garota segurando na minha e quando olhei para seu rosto, ela reclamou que ônibus não chegava nunca. Aquilo me causou um estranhamento, porque ela sempre reclamava que o ônibus chegava e tínhamos que ir. Mas não estranhei só isso, a voz dela estava estranha.
* voltando aos olhos da realidade *
Percebi que não era a garota, era um senhor de boina. Respondi brevemente com um sorriso e fechei os olhos querendo voltar ao passado.
Quando abri os olhos, lá estava o senhor comendo seus pães de queijo.
Eu ainda sentia fome, mas o calor do horário do almoço foi substituído por uma fria garoa de começo de noite – o que torna tudo isso ainda mais cafona. O meu amigo foi substituído por uma moça esperta, a única que tinha um guarda-chuva naquele lugar, mas com certeza ela não faria piadas tão boas. A garota era aquele senhor de boina e, definitivamente, eu não tinha vontade de pegar na sua mão.

Um comentário:

grazi shimizu disse...

nossa, mais uma vez, os vícios crônicos surpreendendo com seus textos cada vez melhores.
adorei esse! :)