quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Sobre horóscopo

“O trabalho está cansativo, mas você poderá sentir a partir de hoje que ele começa a passar por algumas mudanças. Observe cada detalhe e não deixe escapar nada que possa comprometer seu desempenho. Trabalhe apenas; faça cada coisa que deve ser feita sem deixar nada para amanhã.”
Sou um leitor diário daquela coluna de horóscopo que sai nos jornais. É uma mania que não sei como adquiri e não sei se um dia irei abandoná-la. É, eu sei que é uma coisa boba, não acredito que isso mude alguma coisa em minha vida, mas por algum motivo o leio todos os dias.
Essa “previsão” que coloquei no início do texto, encontrei em um site e na verdade não gostei muito. O trabalho está cansativo? Que trabalho? Não estou trabalhando e quase todos os trabalhos são cansativos. É claro que ele está passando por mudanças, até mesmo a rotina que aprisiona as pessoas com suas algemas permite mudanças.
As únicas partes que prestam para algo já estão no senso comum de todos. Não deixar escapar pequenos detalhes, não deixar que coisas comprometam seu desempenho, não devemos deixar o que podemos fazer hoje para amanhã...
Apesar disso tudo continuarei lendo e afirmando que gosto. E como quase tudo nessa vida, devemos acreditar e segui às vezes. Porque sempre pode acontecer.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

O cachorro da cantina

Ontem foi um daqueles dias típicos de faculdade. Você decide que dessa vez vai levar as coisas a sério e começa fazer trabalhos antigos – aqueles que parecem que nunca vão sair do papel. Então, você começa o primeiro deles e algo dá errado. Calma, é só o primeiro de muitos outros trabalhos. Vamos pro segundo! Outra coisa dá errado. Resultado: “vamos pra cantina ?”.
Chegando lá, a gente fez o mesmo pedido de sempre – chegamos até a pensar em rebatizar o pingado com nosso nome, algo como “vamos na cantina tomar um Murillo?”. Foi quando algo surpreendente aconteceu: um cão apareceu. Grande surpresa! Mas ele era daqueles cachorros bonitos que fazem aquele olhar que te deixa com vergonha de estar comendo um pão de queijo. Não dá pra acabar com a fome na África, mas com a fome de um mísero cãozinho dá. Enquanto você pensa isso, ele percebe que a estratégia está dando certo e reforça o olhar.
Pronto! Lá está você com fome e o cachorro se esbaldando no pão de queijo. Quando terminei o último pedaço, olhei pra ele como quem diz “É só isso, campeão. Agora só nos resta a amizade”. Ele olhou de volta, olhou de novo, até que se cansou e foi dar uma volta pela cantina, em busca de outra pessoa com comida. Meu deus, mas essa surpresa fica cada vez maior!
Mas o negócio é que o cachorro aprende com os erros e acertos e repete o que dá certo. Eu, Homo Sapiens com cérebro complexo, sempre dou o meu pedaço de comida pro cachorro.
Balanço do dia: Nenhum trabalho feito, com fome!

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Sobre jardins e lixos

Alan estava cansado. Queria olhar pela janela, mas sabia que a realidade por trás daquele vidro embaçado não iria agradar.
Não agüentou e deu uma leve puxada na cortina. Correu lentamente os olhos pelo gramado e lá no fim estava o lixo. Não era seu lixo, esse era o problema. Alan passou a separar seu lixo, entregava para a coleta seletiva. Mas por algum motivo as pessoas traziam os lixos delas para seu jardim.
As pessoas que ali passavam tinham como primeira imagem aqueles sacos de material em decomposição, o jardim de Alan não era sequer olhado pelos transeuntes. Ele ia até lá quando o Sol já não era mais o seu holofote natural, tirava aquele lixo dali, limpava o churume que corroia sua calçada e regava seu gramado.
No dia seguinte lá estava o lixo novamente. Alan já não agüenta mais isso. Por que? Por que as pessoas tinham que trazer mais lixo para alguém que já o tem, mas aprendeu a dar um jeito nele? Por que cada um não cuida de seu lixo? Você produziu o seu lixo, por que eu teria que ficar com ele na minha porta?
A solução para Alan parece ser simples. Não irá mais deixar o seu jardim à vista das pessoas. Irá erguer ali um muro alto, que esconda tudo dos outros. Não mais verão jardim ou lixo.
E Alan não terá que tratar com a podridão dos outros.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Em algum lugar do Céu...

Ah! Abro mão de minha onipresença para assistir aos homens desafiarem minha criação, sobretudo esse tal de homem-carpa, fico alguns dias sem prestar atenção nas crianças e quando ponho os olhos nelas novamente estão brigando! Não posso deixá-las sozinhas nem por um segundo (alguns dias correspondem a um segundo na extensa eternidade divina).

Deus aproveitava o descanso – desde que inventara a Ciência, os homens pensavam menos Nele e até as orações haviam diminuído – numa macia nuvem branca para assistir aos jogos olímpicos em Beijing. Com sua divina sabedoria, sabia que esse passatempo havia sido inventado por um povo pagão politeísta, mas, misericordioso como nenhum outro, relevava esses detalhes. Ia até além (que ironia): pensava que o Esporte e a Arte eram os meios que mais aproximavam os seres humanos Dele. Divertia-se com as provas de natação, quando teve um pressentimento fortíssimo (onisciência...) e viu que logo ali dois países se desentendiam.

Essas duas - Geórgia e Rússia – até pouco viviam juntas, agora, estão aí...só podiam ser do gênero feminino mesmo (Deus às vezes tinha acessos machistas, o que põe em dúvida se o machismo é um defeito...brincadeira leitora, foi o convívio com sua criação, o homem, ser imperfeito e grosseiro que passou maus hábitos ao Divino). Eu disse pro meu filho frisar bem a parte do “ceder a outra face”, mas parece que só aquele magrinho careca que fazia as próprias roupas , que por sinal: nem cristão era, entendeu.

Será que devo enviar Jesus para uma missão de paz, novamente? Aquela Condolezza Rice parece mais ameaçadora que pacificadora...
Bem, quer saber: enquanto essas almas ceifadas pela Morte continuarem a ser destinadas pro Inferno e não atrapalhar a paz celestial de minha morada: tudo bem.

E Deus se ajeitou melhor na nuvem, procurando uma posição mais confortável, para continuar a assistir ao espetáculo (da vida).

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Um pouco de privacidade

- Mãos ao alto. Larga essa arma ou eu atiro... Eu tô avisando!
- O fato de a arma estar dentro da minha boca não te diz nada?
- Quê? Fala pra fora!
- Eu tô tentando me matar, porra!
- Sei, sei...joga essa arma no chão ou eu te mato!
- Meu Deus, mas você é muito burro mesmo. Você só ia estar me ajudando!
- Burro?! Você perdeu a noção de perigo. Você não tá vendo minha arma, não?
- Como eu já disse, eu também tenho...
- Ah tio, não complica. É só passar o dinheiro.
- Se eu tivesse dinheiro você acha que eu ia estar me matando?
- Você que tá me matando aqui, tio!
- Olha, cansei. Se você me dá licença, eu vô me matar.
- E eu? Vô ficar sem dinheiro nenhum?
- Juro que morto eu não vou oferecer muita resistência.
- Quê?
O suicida não agüentou e fez o que qualquer um faria:sacou a arma da boca e fez o ladrão calar a boca.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Sobre o Brasil olímpico

Até o momento os atletas brasileiros estão naquele nível de sempre - alguns chegam com condições de lutar por medalha, outros não têm chance alguma e tentam se superar para conseguir algo a mais.
Eu já fico satisfeito de ver aquelas pessoas que passam por tantas dificuldades chegar onde chegaram, representando um país que lhes vira as costas durante quatro anos e de repente os exalta como heróis, isso que ganharem algo.
Assistindo as competições não consigo compreender até discuto com as pessoas que não valorizam esses atletas, eles podem não estar ganhando nada, mas já estão entre o melhores do mundo. Duvido que se essas pessoas que criticam fossem o décimo oitavo melhor do mundo em qualquer coisa já não teriam algum orgulho.
Outra coisa que percebi é a semelhança entre os atletas brasileiros e a Rede Globo. Aqui no Brasil, esses atletas e essa empresa são os maiores, dominam o cenário nacional. Mas quando se trata de Jogos Olímpicos, ambos acabam escorregando. Enquanto os atletas acabam perdendo por detalhes, a Globo falhado muitas vezes. Desde erros em informações a erros técnicos.
Se tivesse uma competição sobre vazamento de áudio a Globo seria nosso Phelps.
Vou continuar torcendo pelo Brasil e defendendo-o dos corneteiros. Somente deixo o lado patriota de lado quando o time feminino de volêi da Itália entra em quadra. Não há patriotismo que supere a beleza de Francesca Piccinini e companhia.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Cubículos

Após alguns anos de trabalho no escritório, ele se sentiu doente. Eram umas crises que começavam com uma leve dormência. Logo o quadro evoluía para uma intensa dor de cabeça e cansaço.
Ausentou-se do trabalho por motivo da doença. O médico da empresa o achou muito novo para estar tendo um derrame. Chutou estresse ou problema psicológico – como virou moda hoje em dia.
Não havia motivo para nenhum problema psicológico. A rotina era a mesma de sempre.
Viu-se obrigado a conviver com um numero maior de colegas de profissão. Afinal, era preciso convencer toda uma empresa que ele precisava mesmo se ausentar.
Incrível que hoje em dia não há mais privacidade nem na dor de uma doença. Foi só ele contar que logo todos sentiam a mesma dor que ele. E não chegava a ser mentira. Muitos foram capazes de descrever sintomas que ele mesmo não fora capaz de descrever.
Outras empresas da cidade enfrentavam o mesmo problema. Muitas vezes a dispensa médica era difícil de conseguir porque os chefes também se sentiam doentes. E assim com os vice-chefes, chefes de departamento e supervisores responsáveis.
Os trabalhadores que saíram de seus cubículos para pedir demissão, não encontraram ninguém. Nos almoços de negócios, muitos pediram licença para ir ao banheiro. O suor na testa indicava uma crise de dormência geral. A mão para secar a gota apresentava uma transparência. Ao espalmar a mão sobre a testa, o espelho indicava apenas uma testa – essa é a definição de transparência.
Não é preciso dizer que logo o espelho não apontava mais uma testa também.
Sobraram apenas pedaços de panos em formatos de pernas ou tronco. Para outros nem isso sobrou. Aos que restaram pano, formaram-se grupos de 3 listras, jacarezinhos e nomes franceses. Aos outros, restaram apenas panos sem forma nenhuma.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Além do bem e do mal

Me interesso muito por política e por esportes. No jornalismo, faz-se uma grande diferença entre as duas editorias. Política é nobre, esporte é coisa pra galera do fundão.
Hoje, início das olimpíadas, o esporte mostrou-se mais nobre. Diga-se de passagem, não foi a primeira nem a última vez. Um exemplo é Taiwan, Japão e Hong Kong, antigos desafetos chineses, serem tratados a pão-de-ló na cerimônia de abertura.
Outra prova é o fato de morarem em uma vila olímpica agora milhares de atletas. De duzentos e quatro federações de diferentes países, diferentes em tudo que se imagina. Nem por isso estão brigando fora das quadras, tatames, campos...
Por 16 dias a humanidade eleva-se ao patamar dos animais de novo. Apenas fazendo a boa e velha seleção natural. É uma magia passageira. Mas entre um pouco e nada, eu fico com um pouco.
Claro que há interesses por trás de tudo que acontece nesses jogos. Quem não quer ser sócio da China, ou até cortar as asinhas dela?
De qualquer modo, quem proporciona tudo isso é o esporte. Os atletas são os popstars do momento, e nenhum ato político ou terrorista vai ser mais influente do que eles. Tem que ser muito nobre para sentar e compreender isso.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Sobre Micróbia

Um dia eu sonhei com uma garota e como quase todos os sonhos, o tempo e o espaço não tiveram sentido algum. Nesse sonho conheci uma garota que tinha o nome já citado no título. Não sei quanto tempo imaginei tudo aquilo, não sei quanto tempo se passou naquele contexto onírico, mas foi o suficiente para conhecer aquela menina. Depois de acordar, eu já não lembrava o rosto dela. Mas sabia que era um rosto agradável. Já não me lembrava porque tinha gostado dela, mas sabia que tinha gostado.

Eu já não lembrava disso até rever uma amiga pra qual tinha contado o tal sonho. Eu me lembrei que tinha acordado com uma sensação boa, como se aquela garota fosse real. Concluímos que ela era uma projeção do que acreditava ser uma garota ideal.

Minha amiga foi ainda mais além, nessa projeção eu ainda coloquei o que seria um “defeito”: o nome. Pra ela, talvez seja isso que tenha tornado a sensação ainda mais real. Todos nós temos defeitos, e para que ela não tivesse um desvio de caráter ou beleza foi batizada como Micróbia.

Eu lembro que na época apenas ria do nome e não pensei no que ele pudesse significar. No sonho aquilo não tinha estranhamento algum, era apenas mais um detalhe que só foi receber importância quando acordei. Agora eu tento encontrar uma conclusão: será que temos que aceitar as diferenças como se estivéssemos dormindo para aquilo ou ao encontrar uma versão real do que projetamos vivemos sonhando?

sábado, 2 de agosto de 2008

Vincente - Duchamp-me

Como é que um mendigo consegue passar num concurso público? Tem gente que consegue saltar o fosso que separa o Brasil dos brasileiros. Gosto de ler sobre o banco. Procurava saber sobre commodities, ouro. Parece que o economês não é tão difícil assim. Exposição do Duchamp. Será que é verdade que num quadro ele misturou sêmen à tinta? Deve ser mentira. Tanto tempo e a Débora não tinha perdido a mania de falar sobre o mais recente ex-namorado. Pensei que antes eu implicava com isso. Ciúme. Mas aquilo é um traço seu. Que coisa! Mas tem uma história de sêmen no chinelo que virou obra de arte e está até num museu.

Ah, a Antonieta também não mudou nada. Deve ser coisa de família. Não me diga para permanecer o mesmo. Foucault. Mas a Débora continuava gente boa. E inteligente. Era uma delícia também. Essas três coisas geralmente são excludentes. Mas do egocentrismo ela não escapou, às vezes era difícil suportá-la por isso. Também, como ela poderia achar que o mundo não girava ao redor de seu umbigo? É, mas não girava, coitada. Política...mais um escândalo envolvendo um empresário. Será que alguém já conseguiu ficar rico honestamente? E a mulher dele, usou uma coleira no carnaval com seu nome...tsc tsc. Meu Deus, o Duchamp. Eu sabia que aquele mictório não era sua maior loucura.


Vincente lia a revista e lembrava o filme na casa de Débora. Tinha sido bom, colocar o papo em dia. Durante o filme, ele disfarçava bem: tinha dito que não assistira, mas já o tinha. Comentários em algumas partes: meio sorrisos e entreolhares. Os dois tinham saído algumas vezes mas eram quase como acidentes; depois ela começou a namorar o último ex, o vestibular, e os dois se viram cada vez menos. Aproveitou também pra conversar com a mãe da menina e com a irmã, o pai não costumava chegar tarde, mas neste dia nem sinal: deixou um abraço pro seu Inocêncio.


Ele naquelas fotos jogando xadrez, ninguém suporia! A Denise continuava bem sem vergonha e linda (de uma beleza diferente da irmã. Débora era bonita, mas uma beleza normal, até cansada, gasta. Denise era de uma beleza angelical, ingênua, quase sem querer). Angelical, mas, uma vadia, sem eufemismos. Só os pais e a irmã não percebiam suas insinuações. Nem quando eu estava enrolado com a sua irmã ela perdoava. Algumas vezes precisava sair do quarto da Débora de madrugada e ela na sala, assistindo televisão só de calcinha. Vadia, fazia questão de se levantar pra me dar tchau. Que moralista! Haha, pobrezinha, era verão, há que se considerar. Ah amanhã o trampo é tranqüilo. Graças a Deus


Vincente era quase um ateu materialista, mas vivia agradecendo ou atribuindo acontecimentos a Deus, força de expressão. Pegou no sono.