sexta-feira, 27 de junho de 2008

papo cabeça

outro dia escutei esse papo.
_ se desapegue desse seu passado, criatura! você ainda tem uma vida inteira para se apegar, deixe se apegar por algo que te faça bem. - quando escutei isso não pensei duas vezes em retrucar.
_ ah é? mas e aquele lance de aprender com o passado?
_ ih rapaz, se no passado você ainda não aprendeu que isso não funciona, não posso fazer nada. se você parar e ver, praticamente todos os seus erros são repetidos sempre.
é verdade. o comodismo alcançou até essa parte de mim.
praticamente todos os meu erros - não ERROS em caps lock (esses a gente evita), mas errinhos - acabam se repetindo.
então eu paro pra pensar: será que isso que penso ser um erro é mesmo um erro? ou o fato de pensar que isso é errado seria o verdadeiro erro?
_ ih, nem vem com essa de dar uma de pensador. é errado, você sabe que é errado, só porque não consegue parar está tentando se enganar.
_ será?
vou confessar que tudo isso me deixou meio confuso. ficar pensando o que é certo, o que é errado... enquanto não chego a uma conclusão vou indo do jeito que está, apesar de tudo, as coisas não andam tão mal assim.
_ ah, não me venha com esse papo. você gosta mesmo é do que é errado.
_ ok, talvez seja isso mesmo. mas agora, me deixa dormir que já está tarde, Consciência.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Um Dia de Fúria

A gente bem que tenta. Lembram do ditado: Deus ajuda quem cedo madruga? Mentira. Deus não ajuda nem mesmo os esfomeados na África. Como vai ajudar quem, simplesmente, madruga? Pois bem, no dia anterior a esse relato, o autor com toda boa vontade: correu atrás de tudo que precisava pra fazer um trabalho (e olha que nem última hora ainda era...): conversou com a fonte, arrumou material para embasar a entrevista (e ainda leu este material!), para conseguir um gravador emprestado teve que dispensar uma carona, assim teve de caminhar até sua casa, sozinho e desprotegido na escura, fria e perigosa noite da cidade. Chegou em casa, revirou os armários e arranjou um resto de farinha de fubá pra comer (o autor retifica a última afirmação, sua situação não é tão desastrosa assim... tinha janta.) e dormiu cedo pra acordar cedo no outro dia (o ditado, lembram-se?). No outro dia, o céu cinza anunciava um dia tenebroso, mas o ingênuo autor de nada suspeitou; o frio, o seduzia de volta para cama, mas juntou forças e prosseguiu. Tomou seu banho e café e já saiu de casa (tudo muito apressadamente, reparem nisto, será necessário para gerar a sensação do título no final). Antes de pegar um ônibus para faculdade precisava tirar dinheiro porque a tarde planejara comprar alguns livros. Isso feito: faculdade.


O pobre homem, que cedo madrugou, está nervoso pois chegou 15 minutos atrasado para a entrevista com a fonte, mas tal descuido é fruto do medo de não ter se preparado direito e falar alguma besteira para a estudiosa e, então, leu seu resumo (Sim! ele fez um resumo para uma simples entrevista!). Chegou, entrou no departamento, vozes familiares - um professor cunhado com um apelido do período jurássico-, frio na espinha, a entrevista era para um trabalho de sua disciplina... mas, tudo bem, a boa mulher estava uma sala antes de onde partiam as vozes. Estava tudo bem. Triste engano. A porta que deveria estar aberta, não estava. A sala apagada. A mulher não viera. Puto, o autor ficou. Mas logo o grilo falante veio lhe acalmar, ela pode ter saído, lembre-se: você chegou atrasado...Sim, poderia ser verdade, ainda não era justo condenar a pobre mulher ao último círculo do inferno onde Lúcifer congelado da cintura pra baixo, bate suas asas (ele era anjo...) para aumentar o frio do local, no qual os condenados cumprem sua pena... (essa parte é para os leitores cultos que lerem a Divina Comédia). O autor então decide esperar, pode ser que ela apareça... e senta-se num banco. Dez minutos e passa uma das secretarias da gentil moça: “Com licença, a professora já foi embora hoje?”, perguntou o autor supondo seu atraso a culpa de todo qüiproquó. “Não... ela me ligou agora de manhã e disse que só vem a tarde. Por quê?”. Foi o fim.


Sabe o filme do qual tirei o título? Aquela cena em que o Willian Foster (Michael Douglas) entra no “Mc Donald´s” com uma mochila de metralhadoras... Então, tive a mesma vontade.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Encontros e Desencontros

Quando finalmente temos a possibilidade de viajar, não percebemos o quanto havíamos esperado por aquilo. Nos últimos dias, nos damos conta disso e passamos a aproveitar a viagem. Quando chega o fim, levantar na segunda feira e enfrentar a velha rotina beira o impossível.
Mas o que mais sentimos falta depois são as pessoas que nunca mais vamos ver. Como é chato conversar com alguém que você sabe que só vai existir na sua vida por alguns dias. Amigos de porção individual, como diria o “Clube da Luta”. Por alguns dias são nossos melhores amigos. Depois passam a ser apenas uma vaga lembrança sem rosto.
Talvez seja isso que dê graça às viagens. Esses amigos de porção individual nos lembram imediatamente do lugar que visitamos, dos dias que foram diferentes do cotidiano. Por isso guardamos essa lembrança emoldurada com tanto carinho. Encontrá-los em outro lugar talvez tirasse a magia do momento. Seria como encontrar a Monalisa fazendo compras de pijama. Fora de contexto, eles se tornam apenas mais um.
Durante a viagem, essas pessoas substituem seus amigos usuais e te lembram que nada daquilo é usual. Esses amigos não precisam de rosto, a idéia de companheirismo é universal e vale por si só. Um companheiro com quem seus pensamentos entraram em sintonia: Longe de casa, dos problemas e dos rostos conhecidos do cotidiano.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Ele existe! (Não percam, ainda hoje, a coluna de Fabio Figueiredo)

Essa vai como uma esperança aos desenganados em relação às coisas do coração. Tomara eu que não transforme isso numa pieguice descabida e sentimentalóide.
Sábado, praça do centro, com direito à coreto, pessoas passando pra lá e pra cá, algumas barraquinhas hippies, Ah! a Igreja - como iria me esquecer-, personagens típicos das praças: engraxates, mendigos e/ou bêbados etc. A gente ia fazer uma apresentaçãozinha de poesias, e acabamos por fazer uma apresentação (sem diminutivos). Ficamos um bom tempo declamando poemas no coreto da praça, com direito a microfone, caixa de som e tudo, quer dizer, quase tudo, a platéia era meio escassa. Há uns 50 metros da gente, um mágico também vendia seu peixe, e conseguiu atrair mais atenção. Mais ou menos, na verdade. Há de se considerar que ele chegou antes e usou seus poderes místicos (além de mágico, o cara era índio e vendia Viagra, achou estranho? Eu também, mas isso veio de fonte confiável. Assim, como concorrer com ele?). Mas, voltando. Ficamos lá recitando poesias, algumas pessoas passavam, achavam estranho e paravam, prestavam um pouco de atenção, a gente também dedicava algumas a essas pessoas (vide um amigo nosso que declamou “A mulher que passa”, Vinicius, a uma mulher que passava, o pior é que num trecho dizia: “ó mulher que passa com seu cabelo de sete cores...” a mulher tinha até mais cores no cabelo, na realidade...)
Enfim, foi bem bacana (Agradeço às moças, que organizaram a exposição beneficente ao Asilo Paiva, pelo convite, caso venham a ler isto...).
Terminada a apresentação, bateu uma fome. Ou, o inverso: bateu uma fome e a apresentação foi terminada. Foi quando no meio do vazio de pessoas que nos assistiam surgiu um senhorzinho e veio falar comigo. Me contou sua história: veio do Ceará pra tentar uma vida com mais oportunidades em São Paulo (sabe as histórias de apostilas de geografia, na parte de migração interna?, ou alguma coisa assim?, então, uma delas estava bem na minha frente. Mas sem a frieza das páginas que nos distanciam de sentir algo em relação a essas pessoas.) O homem confessou que estava na apresentação concorrente – a do índio vendedor de Viagra -, mas se redimiu dizendo que prestara atenção em alguns versos e ficara emocionado. Contou- me, ainda, que deixara sua mulher e filhos em Fortaleza, desde que viera pra cá e há uns quatro meses não os via. A saudade estava insuportável. Conforme ele ia me contando essas coisas, vi que o homem estava realmente emocionado, depois me pediu para ler algumas daquelas poesias pra ele. Li então, Soneto do Amor Total, do Vinicius e li também um poema meu (Ah vaidade...). Aquele homem escutava com uma atenção que nenhum monge tibetano dedica às orações. Valeu toda a falta de platéia. Quando terminei, ele ensaiando uma malandragem, no bom sentido, me pediu que escrevesse um poema para ele entregar para a mulher (como se fosse dele, malandro hein); (já assistiram “O Carteiro e o Poeta”?, tem uma parte parecida). Eu, ensaiando por minha vez, honestidade, disse que não poderia fazer aquilo...mas na segunda vez que me pediu, aceitei, mas impus a condição imperativa de que ele me ajudaria (driblei o grilo falante na minha consciência). Sentamos na escada do coreto pra escrever os versos à amada dele. Perguntei a ele mais algumas coisas sobre os dois e conforme ele ia me contando eu escrevia baseado nisso. Finalmente, terminei. Ficou bem simples. Li para ele como tinha ficado. Ele parou, me olhou, depois mirou um ponto na praça que o teletransportava pro nordeste do país. Se virou novamente pra mim e pediu pra ler mais uma vez. O fiz, obediente e resignado. Olhei novamente para ele e sorri: “Então, o que achou?”. As lágrimas deram a resposta. E não eram aquelas lágrimas de homem, duras e tímidas com medo de se mostrar, ainda mais em público tão público, uma praça! E ainda pra um cara que você acabou de conhecer! Eram lágrimas de verdade e desciam sem se importar com terceiros. Fiquei...não sei dizer como fiquei, eu sorria para o homem. Queria chorar com ele e agradecer por ter me mostrado que o amor ainda existe e dessa vez ele não estava nos filmes, ou livros, em novelas, televisão...Não! Ele estava ali, diante dos meus olhos, naqueles olhos, naquelas lágrimas, naquela poesia.

domingo, 22 de junho de 2008

São Pedro Rock City

Por Daniel Gonçalves

Desculpe o trocadilho com a música do Kiss, Detroit Rock City, mas não achei título melhor pra essa crônica. É que minha cidade, a aprazível estância do bordado e dos hotéis-fazenda, São Pedro, teve seu primeiro festival de rock neste ano. A importância disso vocês saberão a seguir.

Aconteceu no fim de maio, depois do feriado de Corpus Christi. Como na maior parte das cidades do interior paulista, o cenário musical são-pedrense é o da tradição caipira. Esse gênero disputa a preferência popular com a roupagem mais americanizada de duplas sertanejas, com o pagode, funk e ultimamente com a música eletrônica também. Na cidade, sempre tem algum grupo desses ou DJ tocando no clube, na praça ou nos barezinhos. Mas não tinha nenhum espaço para o pessoal que gosta do velho roquenrrol e estava farto da mesmice, como eu. Bandas, até existem, mas nada de shows regulares, nem repercussão para os que aconteciam.

Então um conhecido meu da cidade, que tem uma banda, tomou uma atitude. Ele convenceu a secretaria municipal de cultura a realizar um festival gratuito com bandas amadoras, da cidade e de fora. Arranjou patrocínio, equipamentos e local para os shows. Eu fiquei sabendo desse festival pela minha mãe, que ligou pra mim quando eu estava em Bauru, na faculdade. Pensei: pode ser legal, mas tenho minhas dúvidas se vai ser bem organizado e se vai ter público mesmo e não um grupinho de pessoas que só têm pose de roqueiro. Bom, é ver para crer.

O festival tinha começado cedo, e meu irmão e eu chegamos ao lugar dos shows, o galpão da feira do produtor rural, depois do almoço. Justamente na hora em que uma banda legal lá de Atibaia estava no palco mandando um metal melódico, e a galera estava animada! Como gostamos desse gênero de rock em particular resolvemos ficar. Encontramos nossos amigos e ouvimos bandas de diversos gêneros, de punk a rock-retrô-estilo-inglês durante toda a tarde.

No final, revi meus preconceitos e vi que no público de um show de rock não existe essa história de “posers” e fãs autênticos. Todos estão lá curtindo a música e se divertindo igual. Fiquei surpreso e contente com a organização desse show. Que venham outros.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Essa época que vem aí

Já parou pra pensar em como essa época de eleição é chata? Independente do fato de gostar ou não de política. E propaganda política então? Quer coisa mais chata? O candidato tem 5 segundos: “Marcelo Aquino Vinceslau de Camargo, 96574!”. E aí? E eu com isso? A não ser que eu goste muito do número 96574. Sei lá, tem gosto pra tudo.
É tudo muito chato mesmo, quer dizer, chato do lado político. Se você já desistiu da coisa toda, acaba até sendo engraçado. Você acaba até achando graça na falta de tempo do Marcelo ou no candidato da rima. “Pra você que não quer dar um passo pra trás, vote no Zé do Gás”. Aliás, se for parar pra pensar no tanto que propaganda política é engraçada, essa crônica não acaba. E a questão dos partidos? O cara depois de falar os 5 segundos dele, tem que falar “ com Fulano da Silva”. Por exemplo, “pela radicalização da política, vamos tomar as grandes propriedades... com Geraldo Alckmin presidente”.
Também tem o debate político. Já parou pra pensar no tanto que as pessoas têm pra falar? Tem reclamação pra isso, conselho praquilo. Enquanto isso, os políticos ficam lá falando tudo aquilo que a gente já imaginava que eles iam falar. Ninguém admite que fez nada de errado, ninguém admite que vai perder, ninguém admite que não tem nenhuma proposta para a recessão nas vendas a longo prazo nas pequenas cidades emergentes da região noroeste do Mato Grosso do Sul.
O negócio era pegar essas pessoas cheia de coisas pra falar e botar elas pra debaterem alguma coisa. Aquele mediador gira aquele globinho de bingo e escolhe um tema qualquer. “Maior problema do Brasil”. O primeiro fala saúde. O da réplica diz segurança. Aí vem a tréplica: “ Sabe quanto tempo eu demorei pra ser atendido?”. E o outro: “ E eu!? Sabe quanto me levaram de dinheiro esses dias?”. Levanta uma pessoa da platéia: Infra-estrutura, infra-estrutura!!! Isso iria gerar uma briga generalizada. Uma briga de verdade, não essas que a gente vê na época de eleição.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Brasileiros e argentinos: los hermanos

A relação entre Brasil e Argentina pode ser definida como um tipo de neomaniqueísmo. Em quase todos os assuntos entre ambos, fica aquela sensação de luta entre o bem e mal, sendo que quem é o bem e quem é o mal fica definido de acordo com a pessoa - e entre o português ou espanhol que fala.
Mas o assunto desse texto é o jogo de ontem, claro.
A torcida brasileira dividida: quer que o time perca porque está insatisfeita com o treinador ou quer, mesmo que esse treinador ganhe força para manter-se no cargo, a vitória, afinal, é a Argentina.
A situação da torcida argentina eu desconheço, mas não acredito que eles estejam muito contentes, já que há anos não ganham nada.
Ontem eu tentei imaginar a torcida argentina tentando contextualizar a minha situação do lado de lá. Estava eu com alguns amigos vendo o jogo e todos incomformados. Frases como "Júlio Baptista? Júlio Baptista?", na Argentina seria "Julio Cruz? Julio Cruz?".
Brasileiros e argentinos estão em total sintonia, se confusão motivada por aumento de impostos está rolando por lá, aqui temos a CSS, nova CPMF, para cumprir esse papel.
Vou fazer uma confidência: comecei esse texto antes do jogo começar. Mas vendo aquilo, percebi que não tinha como escrever sobre rivalidade, sobre a beleza do futebol sulamericano, se no mesmo dia vi a seleção russa dar um show de futebol.
No fundo, brasileiros e argentinos são todos farinha do mesmo saco.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Infância perdida

Foi há algumas semanas. Estava dando uma olhada na “vitrine” de uma lotérica que mostrava vários tipos de jogos para o sujeito fazer a sua fézinha. Reparei que um tipo deles trazia fotos de crianças desaparecidas. Uma daquelas campanhas filantrópicas que, no mínimo, deve ter garantido aos donos da marca do jogo algum tipo de isenção fiscal ou algum benefício de imposto. Um pouco schopenhaueriana essa minha reflexão: achar que qualquer atitude que pareça altruísta no fundo garanta alguma vantagenzinha a quem a pratica. Mas, não quero entrar na questão Pessimismo vs. Otimismo, até porque os aristotélicos concluirão o meio ponto: Realismo: Sejamos realistas! Conversa fiada... Estava falando sobre as crianças desaparecidas. Comecei a olhar aqueles meninos e meninas, a maioria não passava dos dez anos, alguns conservavam um sorriso (bem fotográfico), outros miravam longe no horizonte (talvez imaginando algum futuro, provavelmente não sabiam que isso lhes era proibido), outros só pelo semblante deixavam transparecer que eram bons filhos... pobres mães. Um dia, eu, minha irmã e meus pais estávamos em uma loja de materias de construção (daquelas bem grandes), estávamos na parte de “portas”, existiam dezenas delas, e estavam expostas formando um labirinto. Resultado: eu e minha irmã nos perdemos, éramos bem pequenos, eu não passava dos oito acho, elas dos seis... Lembro que a gente se abraçou e olhando todas aquelas portas que nos cercavam (a metáfora da “escolha” nos era apresentada cedo) fomos paralisados pelo medo. Ficamos ali. Abraçados. O olhar perdido nas portas, rezando para que uma delas se abrisse e trouxessem nossos pais de volta. Graças a Deus, a oração deu certo. Não sei direito quanto tempo durou, talvez uns dez minutos, mas a sensação angustiante marcou. Imagino esses meninos das fotos, o que eles devem ter sentido quando se viram sozinhos, e, seu real sofrimento, confirmado, dia após dia, sem nunca voltarem pra casa. Fiquei olhando algum tempo aquelas fotos e me perdi nos olhares de algumas crianças. Não ia voltar a Arthur Schopenhauer, mas viu como é impossível não ser pessimista?

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Festa Junina

Junho é um mês bacana. Toda essa coisa de festa junina é algo que me alegra.
Das comidas típicas, nada melhor que paçoca, que delícia é uma paçoca. Junte a ela alguns copos de quentão, um pé-de-moleque, uma pipoquinha... Adoro, mas entendo que as festas juninas perdem para o Natal e a Páscoa em termos culinários.
Tem também as brincadeiras da festa junina. Quem não se alegra dançando quadrilha com um par interessante, pulando fogueira ou vendo um balão no céu a noite - devo ressaltar que não estou apoiando baloeiros incendiários.
Ainda tem algo que gosto muito. A música. Adoro música sertaneja, mas isso eu escuto em todas as épocas do ano.
Mas devo dizer que o que mais me agrada nessa época, são as lembranças da minha infância. Bigode e cavanhaque com lápis de olho que minha mãe fazia em mim, a vergonha de dançar quadrilha com uma garota maior que eu no colégio, as brincadeiras para ganhar prendas.
Ah, as festas juninas ...

quarta-feira, 11 de junho de 2008

O sorriso da menina Gina

O ramo da publicidade tem umas coisas muito engraçadas, e a maioria delas a gente nem percebe. Igual a Gina: loira formosa de sorriso bonito. Com certeza você conhece ela, aquela dos palitos de dente. Por que um sorriso tão grande (como já diria chapeuzinho vermelho)? Porque ela está renovada agora que ela tirou aquele pedaço de carne do pré-molar. Lembra como é chato não ter um palito de dente nessa situação? Pois é, eles te lembram.
Lembram da cerveja, mas não lembram da ressaca. Nem dos tempos em que a menina Gina era modelo do antes e depois de um comercial contra varizes; no caso ela era o antes.
Depois da foto do antes, aí sim ela mostrou a que veio. Sucesso comercial, milhões de palitos de dentes vendidos. Banguelas faziam fila para palitar a gengiva olhando para a Menina Gina. A lembraram que tudo aquilo era passageiro, que fizesse seu pé de meia no auge de seus 32 dentes.
Pobre coitada. Décadas depois da foto, ninguém mais se lembra dela. Operários da fabrica de palitos de dente não tem a mínima noção da importância daquele sorriso. Ora, ela está para a venda de palitos de dente como Popeye está para a venda de espinafre. A solução é pedir à Gina que saia do ramo enquanto ainda lhe resta algo de dignidade.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

circular

minha vida é circular.
roda, roda e roda mais um pouco para voltar ao mesmo lugar, com as mesmas pessoas e na mesma situação. só o tempo não volta.
e esse tempo? enquanto a vida gira nós simplesmente o perdemos? os outros lugares pelos quais passamos não influem em nada? será que essas outras pessoas não adicionam nada em nós? as novas situações nada nos ensinam?
não sei, como agora estamos parados, vou esperar o próximo giro para pensar sobre isso.
me lembro sobriamente do que procurava antes e é exatamente o que ainda quero.
quero acordar de manhã assustado com o despertador, com o braço formigando por ter novamente dormido em cima dele e encontrar seu sorriso no porta-retrato sobre o criado-mudo. quero esbarrar em você em algum lugar e momento inesperado e sentir o tempo parar. quero sentir aquele frio na barriga ao apertar a campainha de sua casa pela primeira vez. quero ter os motivos mais bobos para brigarmos e depois sentirmos como somos um só. quero o conforto de seu olhar.talvez no próximo giro nossos ponteiros dancem juntos na roleta.
algum dia seremos linear?
não, linha reta não é para nós. apesar de todas as reviravoltas, voltamos ao mesmo ponto. não sei se estamos destinados a isso, espero que não. nada de destino, quero escrever cada parágrafo dessa história. quero guardar na memória todos os seus travessões.
parece que quero tudo.
quero você, meu tudo.
roda.

domingo, 8 de junho de 2008

Pequena crônica sobre um grande gênero

por Mauro Souza Ventura

Entre todos os gêneros de escrita, a crônica talvez seja o mais livre e, ao mesmo tempo, mais difícil de ser definido. E isto se deve, creio, à amplitude estilística e temática que a caracterizam. Na imprensa brasileira, por exemplo, tudo aquilo que é publicado sob a rubrica de crônica acaba se incorporando a esse caldeirão de estilos em que cabe tudo, ou quase.
O escritor e jornalista Carlos Heitor Cony, por exemplo, classifica de crônica todos os seus escritos jornalísticos. Onde quer que escreva e sobre o assunto que for, será sempre crônica, costuma repetir em suas entrevistas.
No Brasil, a crônica é praticada desde o início de nossa literatura. Há quem diga que se trata de um gênero tipicamente brasileiro, assim como o ensaio é identificado como um gênero tipicamente inglês. É evidente que não somos os únicos a escrever crônica e nem o ensaio é exclusividade dos praticantes do idioma de Shakespeare. São apenas associações entre estilo e cultura.
Iniciei com uma referência à amplitude estilística e temática da crônica. Vejamos como isso funciona. Machado de Assis, Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e Rubem Braga: todos pertencem ao primeiro time da literatura brasileira e todos escreveram crônica durante a vida, muitas vezes até para ganhar o sustento. E ao fazê-lo, cada um deles imprimiu seu próprio estilo ao gênero.
Tanto é que quando falamos do Machado cronista, logo pensamos na política brasileira na época do Segundo Reinado. Mário de Andrade e Manuel Bandeira escreveram crônicas mais ligadas a aspectos históricos e culturais, enquanto Drummond imprimia poesia em seus textos para jornal.
Dos citados, Rubem Braga tem uma particularidade: sua obra maior é a crônica e a ela dedicou todo o seu talento criativo. Por isso a crítica o considera o maior cronista da literatura. São antológicas as páginas de “O conde e o passarinho”, “A borboleta amarela” ou “Ai de ti, Copacabana”, só pra ficar em três exemplos magistrais.
Pano rápido para a atualidade: Luís Fernando Veríssimo, Arnaldo Jabor, Zuenir Ventura, Contardo Calligaris e o já citado Carlos Heitor Cony. De novo temos cinco estilos e temáticas diferenciadas. Humor, comportamento, política, cotidiano, conflitos existenciais. Não há limites para a crônica, ainda que seu ponto de partida seja quase sempre o episódico, a atualidade, a vida ao rés-do-chão.
Mas o desafio maior de todo cronista está em ultrapassar esse elemento episódico que a inspirou e falar de perto ao leitor, sempre naquele tom de despretensão e oralidade que torna a crônica um gênero tão peculiar. Como lembra o crítico Antonio Candido, nenhuma literatura se sustenta apenas com cronistas. Mas, penso eu, nenhuma literatura e nenhum jornalismo podem prescindir do olhar irônico, poético e sorrateiro do cronista, que sabe como poucos fisgar o leitor.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

quando chegar o inverno, os céus mandarão chuvas de sucesso para você

o título é a minha sorte de hoje. que sorte, não? pense comigo como será bom.
naquele dia, acordo atrasado mas com um sorriso no rosto. o atraso e o sorriso são meus cumplíces da noite anterior. cambaleando de sono não acho meus chinelos, que mais tarde seriam encontrados ao lado do sofá. percebo que meus olhos não abrem o suficiente para ver os ponteiros do relógio, mas percebo que o tempo que tenho também não é suficiente para minha enrolação matinal.
com o pouco de voz que consigo juntar, murmuro um mantra contra acordar cedo e volto a me jogar de cara na cama, como se aquilo fizesse o tempo parar, sinto um doce cheiro por ali. o sorriso volta ao rosto.
com a coragem que me resta, tomo um banho e decido comprar café no caminho. usando três blusas por causa do rigor daquele inverno que acaba de chegar, mal sinto as cotoveladas da batalha por alguns centímetros quadrados no vagão do metrô.
chego no escritório em cima da hora, e percebo olhares sobre minha pessoa. escuto alguns cochichos. me pergunto se meu relógio está atrasado, pergunto isso também para a recepcionista. ela responde que está certo e sorri de forma diferente. trabalho o dia inteiro sentindo que tem algo de estranho ali. lá pelas 15h sou chamado pelos meus chefes. pois é, realmente deve ter algo de errado. nada disso, fui promovido. como a vida poderia estar melhor?
caminho pela calçada até a estação do metrô cantarolando uma dessas musiquinhas que ficam na cabeça por dias. o tempo que demoro para procurar o celular no bolso é suficiente para o tempo fechar e o céu desabar. as três blusas encharcadas parecem pesar algumas centenas de quilos, o táxi que dobra a esquina passando pela poça d´agua inquieta ergue uma parede que terminar de molhar o que os pingos não alcaçavam em mim. decido correr, escorrego em frente ao ponto de ônibus. a vergonha é tanta que sinto vontade de escorrer pelo bueiro.
não importa o quão feliz esteja, sempre chegarão as chuvas de sucesso.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Gente gentil

Tinha acabado de sair da faculdade, o professor tinha terminado a aula perto das onze horas, ou seja, eu ia ter que ir embora de ônibus. Como dizem por aí, uma desgraça nunca vem só, além de sair tarde da faculdade e ter de ir embora de ônibus, estava com uma baita fome e em casa não tinha o que comer. Desci no ponto perto de casa, uma praça, e logo um cheiro de fome me invadiu. Era uma daquelas praças com trailers de lanches, churros, pizzas etc. Aquele cheiro de hamburger e bacon frito, tudo bem gorduroso, dão uma vontade impressionante; por mais que você saiba que aqueles lugares não são muito confiáveis, não por serem de pessoas mal-intencionadas, mas por serem lugares sem quase nenhuma condição de...higiene mesmo, além da ditadura econômica impor quase sempre a opção pelos produtos mais baratos que, às vezes, coincidentemente (sem muita ironia), são os de pior qualidade. Enfim, era quase impossível não ceder ao apelo do estômago, e em casa não tinha nada mesmo, decidi comer um lanche. Já que era pra encarar o negócio, fiz um pedido de acordo: X – Bacon, com direito a catchup, mostarda e maionese (sempre que eu como esses condimentos lembro da cena do “Clube da Luta” que o personagem do Edward Norton chega no prédio em que ele mora, e o apartamento dele acabara de explodir, todas as suas coisas na rua, a mesinha no formato Ying-Yang e todos aqueles condimentos...), continuando, o lanche, com aquele bacon gritando gorduras tran-saturadas e bastante colesterol, aqueles que diminuem um pouca nossa longevidade...Para acompanhar, o símbolo capitalista do imperialismo americano, já que estava celebrando a displicência da dieta porque não estender para a ideologia, uma Coca-Cola! Bem, foi, mais ou menos, aí que minha noite começou a mudar. Eu pedi uma coca à moça do trailer e ela me disse que tinha de lata e de garrafa de 600 ml. Como na maioria dos lugares a lata não valia a pena, pela menor quantidade e o preço nem tão menor assim, mas eu não estava com tanta sede, era só pra acompanhar o lanche...Mas, acabei ficando em dúvida sobre qual das duas. Foi aí, que a moça do trailer percebeu minha hesitação sobre a escolha e, gentilmente, me explicou a vantagem de comprar a garrafa. Eu achei aquilo tão bonito. Ela lá, dentro daquele lugar de 1 metro por 3, fritando hamburger pra ganhar a vida (não que eu ache isso indigno, mas convenhamos, não é o sonho de ninguém fritar hamburgeres numa praça pra sobreviver) mas, mesmo assim, ela mantinha o bom humor e a educação com clientes, e, ainda, conseguia ser gentil no meio daquilo tudo. E eu, saindo de uma universidade, sendo paitrocinado para só estudar e com muitos outros confortos não tão necessários assim, reclamava da vida. Aquela mulher me explicando a vantagem de comprar uma coca-cola de 600 ml, ao invés de uma lata, me lembrou que ainda existe humanidade na humanidade. Comi o meu X – Bacon bem gorduroso, com bastante condimento, tomando a minha coca-cola de 600 ml, e voltei para minha casa, pensando na vida.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Ônibus Califórnia

Como a gente viaja, não? Mesmo que a gente fique nossa vida inteira no mesmo lugar é impossível não se cansar de tantas idas e vindas. Como um rapaz que esses dias resolveu tomar o primeiro ônibus que aparecesse. Deu uma nota de 50 reais à atendente e pediu a ela que escolhesse um destino qualquer.
No corredor do ônibus, ao procurar o numero de seu assento, o sujeito se surpreendeu ao ver o espírito geral dos passageiros. O veículo parecia estar levando uma expedição da escola ao zoológico, tal era a inquietação das pessoas.
Um homem com uma valise no colo repetia para si mesmo um discurso sobre suas qualificações profissionais – talvez estivesse viajando para pedir um aumento ao chefe da empresa, ou algo parecido. Um sujeito vestido como se fosse à praia passava insistentemente o protetor no rosto já todo esbranquiçado. Como esses, eram vários os tipos: o bagunceiro, o calado, o estudante, o tristonho, o pai e o filho...
Já saindo do êxtase para a exaustão, a cabeça do rapaz começou a misturar os pensamentos, assim como o ônibus, que começou a girar cada vez mais desfocado. Antes que o sono começasse de maneira efetiva, o rapaz ouviu a voz do jovem que sentara a seu lado:
- O senhor vai pra onde?
O garoto nem chegou a ouvir a resposta, o rapaz já estava dormindo, ou fazia parecer assim.
Em meio aos sonhos, que ele podia sentir que eram sonhos, sentia do ônibus apenas o balanço da aceleração e da desaceleração. Para sua sorte, os passageiros haviam se calado.
No auge da dormência, quando os sonhos não mais pareciam sonos, o rapaz foi acordado de maneira brusca.
- Escuta aqui, como assim você ainda não sabe pra onde vai?
Sua vontade era a de esganar o garoto e todos os outros passageiros que, agora em pé no corredor, olhavam para ele como se fosse um criminoso. Não foi necessário esganá-los. Assim que seus olhos se abriram já readaptados à luz, todos haviam sumido.
Pelas janelas do ônibus dava para ver apenas uma grande nuvem de poeira, como aquela dos desenhos quando um personagem sai correndo muito rápido. Nessa nuvem, estavam as passagens jogadas ao ar pelos passageiros. O cobrador tentava pegá-las nervosamente, mas os desenhos que elas faziam durante a queda enganavam os sentidos do velho trabalhador.
O rapaz então saiu do ônibus e começou a ajudar o velho a recolher os bilhetes. Lembrou-se da pergunta que o impedira de dormir e passou a olhar fixamente para os detalhes da passagem. Lá estava o destino do ônibus com a letra manuscrita: casa.
Nós estamos sempre voltando pra casa.

domingo, 1 de junho de 2008

assim como alguns frutos tem suas épocas, eu tenho a minha para escrever. minhas épocas de insônia.
não que uma boa noite de sono tire minha criatividade, eu penso, crio, só não coloco no papel. se meu travesseiro lesse pensamentos e os imprimisse, já teria alguns livros embaixo dele.
durante o dia as palavras vão se juntando aos poucos, mas é com o apagar do interruptor que tomam forma. é com o abafamento sensorial que minha mente escreve.
as vezes coisas sobre o dia. as vezes alguma sombra do passado projetada na parede. idéias mirabolantes de conquistas. um quarteto de frases rimadas. um esboço de texto que me imortalizará. vem tudo.mas perde-se.
é na insônia que paro e passo isso para o papel.
é na insônia que vejo a dança de uma caneta.
e nela que vejo a minha verdadeira letra, aquela com paixão, e não aquela de anotar lembretes.
quando a insônia vem eu reclamo. mas ao ver algumas páginas rabiscadas, até gosto. não que me agrade tudo o que ali escrevi, mas gosto. preciso tentar lembrar de anotar os planos mirabolantes de conquistas.
se juntar tudo dá quase uma inútil biografia sem qualquer conexão. mas vejo alguma beleza ali.
não dizem que se não nos amarmos, quem nos amará? se eu não ver beleza nessas palavras que mostram trechos de minha vida, quem verá?
e nesse turbilhão de pensamentos pressinto que verei o sol nascer.
é na insônia que a caneta e o caderno vêm quebrar o solidão de meu quarto.