quarta-feira, 18 de junho de 2008

Infância perdida

Foi há algumas semanas. Estava dando uma olhada na “vitrine” de uma lotérica que mostrava vários tipos de jogos para o sujeito fazer a sua fézinha. Reparei que um tipo deles trazia fotos de crianças desaparecidas. Uma daquelas campanhas filantrópicas que, no mínimo, deve ter garantido aos donos da marca do jogo algum tipo de isenção fiscal ou algum benefício de imposto. Um pouco schopenhaueriana essa minha reflexão: achar que qualquer atitude que pareça altruísta no fundo garanta alguma vantagenzinha a quem a pratica. Mas, não quero entrar na questão Pessimismo vs. Otimismo, até porque os aristotélicos concluirão o meio ponto: Realismo: Sejamos realistas! Conversa fiada... Estava falando sobre as crianças desaparecidas. Comecei a olhar aqueles meninos e meninas, a maioria não passava dos dez anos, alguns conservavam um sorriso (bem fotográfico), outros miravam longe no horizonte (talvez imaginando algum futuro, provavelmente não sabiam que isso lhes era proibido), outros só pelo semblante deixavam transparecer que eram bons filhos... pobres mães. Um dia, eu, minha irmã e meus pais estávamos em uma loja de materias de construção (daquelas bem grandes), estávamos na parte de “portas”, existiam dezenas delas, e estavam expostas formando um labirinto. Resultado: eu e minha irmã nos perdemos, éramos bem pequenos, eu não passava dos oito acho, elas dos seis... Lembro que a gente se abraçou e olhando todas aquelas portas que nos cercavam (a metáfora da “escolha” nos era apresentada cedo) fomos paralisados pelo medo. Ficamos ali. Abraçados. O olhar perdido nas portas, rezando para que uma delas se abrisse e trouxessem nossos pais de volta. Graças a Deus, a oração deu certo. Não sei direito quanto tempo durou, talvez uns dez minutos, mas a sensação angustiante marcou. Imagino esses meninos das fotos, o que eles devem ter sentido quando se viram sozinhos, e, seu real sofrimento, confirmado, dia após dia, sem nunca voltarem pra casa. Fiquei olhando algum tempo aquelas fotos e me perdi nos olhares de algumas crianças. Não ia voltar a Arthur Schopenhauer, mas viu como é impossível não ser pessimista?

5 comentários:

Fábio Figueiredo disse...

Sebá, mano, se toda vez que você for pressionado escrever algo assim se prepare. tomará choques elétricos. muito bom cara!

Unknown disse...

...

Como comentar algo que a gente nem tem palavras para descrever?
^^

Depois de ler essa cronica fiquei pensando mesmo como essas crianças se sentem...

É nessas horas que me orgulho de estar fazendo um curso com pessoas que eu gosto. (E também que me sinto um lixo com a minha escrita...)


Beijos, meninos!!

Anônimo disse...

Eu sou um tanto schopenhaueriana.

E mto bom o texto!
Um dia meus pais se esconderam de mim no parque, enquanto eu olhava a roda gigante. Fiquei perdida. Isso causa traumas profundos e irreparáveis.

adoro textos q trazem lembranças!

=*

Murillo Bocardo disse...

concordo com ocompanheiro fábio.O negócioé escrever sobrepressão! muito bom, Sebá.

José Carlos Brandão disse...

Gostei. Está bem escrita. Prende o interesse o leitor. Talvez não devesse ficar citando Shopenhauer... Sei lá. Eu também cito muito.

Só uma sugestão: divida o texto em parágrafos. Ficará melhor. Vejo os seu companheiros, todos dividem. Eu costumo deixar uma linha entre parágrafos, mas isso é com vocês. Mas tente deixar um assunto por parágrafo... Até ajuda a ter mais o que escrever, a um assunto, uma frase ou uma palavra puxar outra.

Mas está legal. Parabéns. (Agora entendi o porquê de fazerem 2 crônicas por semana cada uma: escrever sob pressão. Mas talves seja muita pressão. Eu escrevo uma por semana - verdade que com o dobro do tamanho, e não me comportando como jornalista, que é o caso de vocês.)

Vão em frente!