segunda-feira, 23 de junho de 2008

Ele existe! (Não percam, ainda hoje, a coluna de Fabio Figueiredo)

Essa vai como uma esperança aos desenganados em relação às coisas do coração. Tomara eu que não transforme isso numa pieguice descabida e sentimentalóide.
Sábado, praça do centro, com direito à coreto, pessoas passando pra lá e pra cá, algumas barraquinhas hippies, Ah! a Igreja - como iria me esquecer-, personagens típicos das praças: engraxates, mendigos e/ou bêbados etc. A gente ia fazer uma apresentaçãozinha de poesias, e acabamos por fazer uma apresentação (sem diminutivos). Ficamos um bom tempo declamando poemas no coreto da praça, com direito a microfone, caixa de som e tudo, quer dizer, quase tudo, a platéia era meio escassa. Há uns 50 metros da gente, um mágico também vendia seu peixe, e conseguiu atrair mais atenção. Mais ou menos, na verdade. Há de se considerar que ele chegou antes e usou seus poderes místicos (além de mágico, o cara era índio e vendia Viagra, achou estranho? Eu também, mas isso veio de fonte confiável. Assim, como concorrer com ele?). Mas, voltando. Ficamos lá recitando poesias, algumas pessoas passavam, achavam estranho e paravam, prestavam um pouco de atenção, a gente também dedicava algumas a essas pessoas (vide um amigo nosso que declamou “A mulher que passa”, Vinicius, a uma mulher que passava, o pior é que num trecho dizia: “ó mulher que passa com seu cabelo de sete cores...” a mulher tinha até mais cores no cabelo, na realidade...)
Enfim, foi bem bacana (Agradeço às moças, que organizaram a exposição beneficente ao Asilo Paiva, pelo convite, caso venham a ler isto...).
Terminada a apresentação, bateu uma fome. Ou, o inverso: bateu uma fome e a apresentação foi terminada. Foi quando no meio do vazio de pessoas que nos assistiam surgiu um senhorzinho e veio falar comigo. Me contou sua história: veio do Ceará pra tentar uma vida com mais oportunidades em São Paulo (sabe as histórias de apostilas de geografia, na parte de migração interna?, ou alguma coisa assim?, então, uma delas estava bem na minha frente. Mas sem a frieza das páginas que nos distanciam de sentir algo em relação a essas pessoas.) O homem confessou que estava na apresentação concorrente – a do índio vendedor de Viagra -, mas se redimiu dizendo que prestara atenção em alguns versos e ficara emocionado. Contou- me, ainda, que deixara sua mulher e filhos em Fortaleza, desde que viera pra cá e há uns quatro meses não os via. A saudade estava insuportável. Conforme ele ia me contando essas coisas, vi que o homem estava realmente emocionado, depois me pediu para ler algumas daquelas poesias pra ele. Li então, Soneto do Amor Total, do Vinicius e li também um poema meu (Ah vaidade...). Aquele homem escutava com uma atenção que nenhum monge tibetano dedica às orações. Valeu toda a falta de platéia. Quando terminei, ele ensaiando uma malandragem, no bom sentido, me pediu que escrevesse um poema para ele entregar para a mulher (como se fosse dele, malandro hein); (já assistiram “O Carteiro e o Poeta”?, tem uma parte parecida). Eu, ensaiando por minha vez, honestidade, disse que não poderia fazer aquilo...mas na segunda vez que me pediu, aceitei, mas impus a condição imperativa de que ele me ajudaria (driblei o grilo falante na minha consciência). Sentamos na escada do coreto pra escrever os versos à amada dele. Perguntei a ele mais algumas coisas sobre os dois e conforme ele ia me contando eu escrevia baseado nisso. Finalmente, terminei. Ficou bem simples. Li para ele como tinha ficado. Ele parou, me olhou, depois mirou um ponto na praça que o teletransportava pro nordeste do país. Se virou novamente pra mim e pediu pra ler mais uma vez. O fiz, obediente e resignado. Olhei novamente para ele e sorri: “Então, o que achou?”. As lágrimas deram a resposta. E não eram aquelas lágrimas de homem, duras e tímidas com medo de se mostrar, ainda mais em público tão público, uma praça! E ainda pra um cara que você acabou de conhecer! Eram lágrimas de verdade e desciam sem se importar com terceiros. Fiquei...não sei dizer como fiquei, eu sorria para o homem. Queria chorar com ele e agradecer por ter me mostrado que o amor ainda existe e dessa vez ele não estava nos filmes, ou livros, em novelas, televisão...Não! Ele estava ali, diante dos meus olhos, naqueles olhos, naquelas lágrimas, naquela poesia.

6 comentários:

Paula Bastos disse...

Sinta-se privilegiado por viver esse momento e que o amor desse homem o dê força para superar todas as barreiras...

Anônimo disse...

Nossa! Que lindo!

Anônimo disse...

Lindo? É mais que lindo. Se o amor existe, vc teve a oportunidade de ver bem de perto. E mais: me senti no seu lugar. Acho que realmente suas palavras têm força de teletransporte.
Virei sua fã ;)

grazi shimizu disse...

como já dizia maysa, "que boniiito..." :)

Anônimo disse...

ódio ao sebá.

Anônimo disse...

Ficou muito lindo msm!Estou encantada!Sinto mto orgulho...