domingo, 1 de junho de 2008

assim como alguns frutos tem suas épocas, eu tenho a minha para escrever. minhas épocas de insônia.
não que uma boa noite de sono tire minha criatividade, eu penso, crio, só não coloco no papel. se meu travesseiro lesse pensamentos e os imprimisse, já teria alguns livros embaixo dele.
durante o dia as palavras vão se juntando aos poucos, mas é com o apagar do interruptor que tomam forma. é com o abafamento sensorial que minha mente escreve.
as vezes coisas sobre o dia. as vezes alguma sombra do passado projetada na parede. idéias mirabolantes de conquistas. um quarteto de frases rimadas. um esboço de texto que me imortalizará. vem tudo.mas perde-se.
é na insônia que paro e passo isso para o papel.
é na insônia que vejo a dança de uma caneta.
e nela que vejo a minha verdadeira letra, aquela com paixão, e não aquela de anotar lembretes.
quando a insônia vem eu reclamo. mas ao ver algumas páginas rabiscadas, até gosto. não que me agrade tudo o que ali escrevi, mas gosto. preciso tentar lembrar de anotar os planos mirabolantes de conquistas.
se juntar tudo dá quase uma inútil biografia sem qualquer conexão. mas vejo alguma beleza ali.
não dizem que se não nos amarmos, quem nos amará? se eu não ver beleza nessas palavras que mostram trechos de minha vida, quem verá?
e nesse turbilhão de pensamentos pressinto que verei o sol nascer.
é na insônia que a caneta e o caderno vêm quebrar o solidão de meu quarto.

Um comentário:

Gustavo Stevanato disse...

"Certo dia, o sono foi embora. Contemplei o tecto do quarto durante uma noite inteira. Vieram mais duas. À terceira, a minha vontade era morrer. O problema da insónia não está propriamente na noite. A noite é simples: a escuridão é amiga dos olhos, o silêncio é uma canção de embalar para uma cabeça cansada. O problema do insone são os dias: o terror do dia que chega, a luz que vai furando as persianas do quarto como balas de ouro que trazem consigo o ruído do mundo. Carros. Sirenes de polícia. Vozes. Conversas. Telefones que tocam. Telefones que imaginamos tocar. E a certeza - a longa certeza - de que a noite chegará. E, com a noite, a evidência de uma nova cruzada. Uma solitária cruzada. Não existe solidão comparável à do insone. Na vida normal, conhecemos pessoas, perdemos pessoas. Ficamos sós. Tudo bem. Ou tudo mal. Mas a solidão do insone é uma solidão desabitada de pessoas. Somos nós e nós e nós. O mundo dorme e nós somos sós".

eu sei.