quarta-feira, 9 de setembro de 2009

algemas

você pode me dizer o que é pior que a agonia da impossibilidade.
talvez o impossível seja a sombra das dores que tomam nossas forças. o soldado que não pode salvar o companheiro, a mãe que o filho partir, os amigos que sentem seus laços desmancharem, os lábios que você não pode beijar.

desespero.

tão distante, mas tão perto fisicamente. a oportunidade em seus braços, te apertando com força enquanto entrega seus últimos suspiros. ela morre, você enterra e vela. chora em luto enquanto a culpa prefere sufocar a consolar-te.

você pode me dizer o que é pior que a agonia da impossibilidade.

talvez o impossível tenha criado a esperança apenas para aliviar momentaneamente a ânsia de quem nada pode. a chama que não se pode apagar, a doença que não se pode curar, a fome que não dá para saciar, os gemidos que não vão se calar.

aflição.

não se pode estender a mão para o outro enquanto ela está algema à outra. não se pode sequer vigiar com os olhos vendados. não se pode carregar ninguém com um fardo nas costas. não se pode correr para alguém com os tornozelos acorrentados.

você pode me dizer o que é pior que a agonia da impossibilidade, mas não pode abafar os meus gritos desesperados nessa impotência. nem cessar a aflição de ver a pessoa que você menos espera lhe causando tal agonia.