sexta-feira, 26 de setembro de 2008

As faces do anel

(já que as famosas estão se casando...)
As alianças rolam sozinhas até os bueiros. Tanto para os bonzinhos quanto para os cafajestes.
É a lei de murphy: saiu do dedo, elas rolam e se perdem. Quando tudo são flores, o anel coloca-se sozinho no dedo. Quando a fase é ruim, aquela posição para ele é insuportável.
Insuportável. A face obscura da argola dourada.
- Quer casar comigo?
- Não!
Simples assim.
É incrível, aliás, como um anel se desvaloriza no mercado depois de rejeitado. Isso ninguém conta. Nem a mais depressiva das novelas.
Até porque o outro lado da argola é mais divertido.
-Sim!
Grãos de arroz. Bêbados cortando gravatas. Noite de núpcias. A "primeira" vez.
Mesmo assim, já que se tratando de anéis nada é um mar de rosas, existem ainda outras possibilidades de bueiro. Por exemplo, a "sindrome do sim": diz-se que o sexo oposto se sente atraído por aqueles com um anel no dedo - ah, a lei de murphy, como ela gosta desses assuntos.
Nem sempre esse é o problema. As vezes, o bueiro simplesmente acontece. Nesses casos, a culpa é da aliança. Ela que corre sozinha até os bueiros. Lógico que a gravidade também ajuda.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

F. na padaria

Três pessoas ainda na sua frente. Já escolhera os pães que queria levar. Mas, provavelmente, não os levaria. Ou porque algum dos três, ou eles todos, por terem a vantagem física os levaria antes; ou pela incapacidade telepática da atendente de adivinhar os pães escolhidos – uma vez que a distância que o separa dos pães é de consideráveis dois metros, com um balcão de barreira entre, "aquele ali perto do vidro, isso! agora o que está formando a Ursa Maior com aqueles outros..."difícil seria muito difícil dizer à moça quais eram os escolhidos, foram escolhidos pela aparência, sim, os mais aprumáveis, mas tinha algo além disso alguma coisa inexprimível que o fizera escolher aqueles.

Por falar nessa moça, quais seriam os critérios usados por ela para a seleção dos pães?
Porque ela não deve simplesmente recolher no saco pães ao acaso. Isso seria um absurdo.
Será que ela associa os pães às pessoas, traçando uma mística ligação entre estas e aqueles? Seria essa habilidade um pré-requisito na arte ou no ofício de escolhedora de pães? Mesmo que isso ocorra inconscientemente. Freud explica. Breton escreve. Dali pensou que pintava. Mas se é inconsciente, nem Breton escrevia. Tampouco Freud explicava.

Aposto que é isso: ela olha o rosto do freguês, analisa como ele faz o pedido (o que pode variar muito), identifica o timbre da voz etc e parte em busca dos pães certos! Quem diria quantos mistérios há no nosso pão de cada dia. Se considerarmos que o Universo segue uma lógica, isso pode ser bem verdade.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

a arte de esquecer

Existem coisas que não sei se já encontraram solução, como porque cismamos em ficar com algumas lembranças, pessoas e canções na mente. Como se dá a escolha delas? Por que elas ficam impregnadas na nossa mente? E o mais importante de tudo: como esquecer?
As vezes algumas dessas coisas doem e ficam lá, batendo incessantemente. A vontade de esquecer consegue ser maior do que o afeto que você já teve ou ainda tem. Mas não esquecerás! Ficará lá, diariamente te jogando na cara como um passado melhor do que o presente.
Algumas dessas coisas não conseguem ser lembradas espontaneamente. Precisam de um som, uma imagem, uma data. Mas quando surgir a menor brecha, lá estará!, sua mente ficará toda voltada àquilo.
Como tudo na minha vida, são coisas que vou levando na espera de que um dia não esteja mais ali. Ou, se estiver, que não seja algo tão dolorido. Preciso esquecer. Preciso seguir.
Chega dessas mãos do passado a sufocar-me.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Mais uma sobre tempo

Quando criança, todo mundo pergunta o que a gente quer ser quando crescer. Quando a gente cresce, só a gente se pergunta isso. Os planos se desgastam e aparecem outros. Na data combinada de se divertir a gente se aborrece, e no meio do tédio a gente se diverte. O destino, o tempo, ou seja lá o que for, tem uma ironia sarcástica e deselegante. Um revoltado com isso foi o João.
João queria ser médico e viajar o mundo. João foi comunista, foi extremista, foi direitista. Foi solteiro, casado, divorciado, noivo. Andou de trem, andou de ônibus, andou de carro, andou a pé. Morou de aluguel, construiu uma casa, morou em hotel, morou com os pais. Ganhou muito, ganhou pouco, o suficiente, não ganhou nada. Teve um cachorro, um gato, uma cobra, uma aranha, ou bicho nenhum. Foi otimista, pessimista, realista, religioso. Acreditou em sorte, depois em destino, depois em destino e sorte, depois em sei lá o que. Teve poucos e bons amigos, muitos e bons amigos, nenhum amigo, seu pai e sua mãe. Foi João, foi José, Maria, Pedro, César, Rodrigo e Luis Henrique. Foi advogado, médico e jornalista. Nunca saiu da cidade e nunca soube dar uma injeção.
Em geral, o tempo é mais forte do que os planos – em geral. Por isso mesmo, cada dia mais a gente quer conhecer o tempo. A ciência também não consegue explicá-lo. O que se sabe é que o espaço-tempo é curvo e altera qualquer trajetória que queira ser linear.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Viajante

Quero tomar o timão desse barco. Deixar ele à própria sorte já não me satisfaz. Fazer a viagem até aqui à deriva fez com que eu não me cansasse, mas enquanto eu não começar a guiar esse barco o meu destino ficará cada vez mais longe.
A diversidade de opções é sempre muita: velas, ventos, correntes. Mas tenho que decidir, escolher a opção que me leve mais rápido e em segurança.
Enquanto o barco rasga o mar, a palavra “Vida” escrita nele recebe os socos das ondas e luta para manter seu equilíbrio. O vento que parece ser apenas um detalhe da vida terrestre torna-se a força que me guia.
A sincronicidade das correntes com o vento, e até entre elas, pode mudar minha trajetória. Ou me manter mais firme nela.
As tempestades ocasionais trazem a vontade de rasgar todos os mapas. A falta delas também me dá essa vontade.
Talvez eu simplesmente não possa guiar meu próprio navio e precise de alguém para isso. Talvez a tripulação que carrego não seja mais suficiente.
Agora você encontrou essa carta dentro de uma garrafa. Agora eu posso estar em qualquer lugar desse mundo. Em meu destinou. Ou ainda perdido na imensidão desse mar.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Sujo

Regulou no inverno e girou a válvula. As primeiras gotas começaram a cair. Respirou de alívio, precisava se limpar. Pegou o sabonete de glicerina e começou a se ensaboar. O banho era quase uma terapia, nele era quando tinha os pensamentos mais altos resolvia questões existenciais e discutia filosofias. O vapor começou a tomar conta do banheiro. Gostava de respirar o ar úmido, sentia que se lavava por dentro também. Pegou a bucha e começou a esfregar o corpo ensaboado. A superfície áspera em atrito com seu corpo aumentava a sensação de limpeza. Como se a dor purificasse ainda mais. Auto-flagelação dos membros mais fanáticos da Opus Dei. Mas algo acontecia. Se sentia de forma estranha. Esfregou-se mais um pouco e enxaguou-se. Mas não sentia o corpo limpo. Sabonete no fim, abriu outro. Tornou a ensaboar, esfregar e enxaguar: mas ainda não se sentia livre da sujeira. Repetiu ainda uma terceira vez todo o processo. O vapor aumentava, mesmo assim fechou um pouco a válvula para tornar a água mais quente. Esfregou-se mais e freneticamente. A pele começou a ficar vermelha. Mas era insuficiente. Olhou para a pedra para esfregar o calcanhar. Pegou-a e começou a passá-la no corpo todo, inclusive no rosto. As primeiras lágrimas de dor começaram a cair mas não conseguia parar. Aumentou mais ainda a temperatura da água. O vapor já deixava a atmosfera sufocante. Escorrendo pelo corpo junto ao sabão e água já se notava um pouco de sangue. No entanto, a pedra continuava áspera a dilacerar a derme. Friccionava-a contra o corpo cada vez mais. Começou a soluçar e chorar convulsivamente. Todo o corpo tremia, mas não conseguia deter as mãos pressionando a pedra contra a pele. Gemia de dor. Mas guardava um sorriso pelo excitamento de sentir a limpeza. Dilacerava até o próprio sexo a fim de remover toda sujeira. No chão, os pés pisavam sangue e espuma, o ralo entupia-se com pedaços de pele. Com nojo da sujeira que o tomava rompeu num violento vômito. A pedra continuava, rasgando seus tecidos. A sujeira era inextirpável. Tomava conta de seu corpo, era parte dele, era ele próprio. Não agüentou e desmaiou de dor. Na queda, sua cabeça bateu na válvula abrindo um profundo corte na cabeça. Sangrou até morrer.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

No seu próprio Céu de Baunilha

Olá, você não me conhece, mas eu sou você. A genética, os pensamentos e tudo mais. Na verdade, quase tudo. Eu precisava de um começo impactante pra chamar sua atenção. Afinal, ninguém mais do que eu, sabe o quanto você se dispersa em momentos como esse.
Deixando de lado a enrolação, olá de novo. Eu vou parecer meio metido para alguém que você acabou de conhecer. Com certeza, você nunca viu no espelho um reflexo tão insolente.
Eu sou tudo aquilo que você gostaria de ser e mostrar para os amigos. Só que comigo é sempre um show e eu sou o ator que faz as coisas acontecerem. As coisas que você não faz. Não faz porque não consegue, não porque não quer.
Quando você pensa estar vivendo, eu assumo e te manipulo. Eu sou um divertimento feito por você e para você.
Na falta de um roteiro pra mim hoje, decidi te contar tudo isso. Não porque eu queira o seu bem, mas porque eu não tinha mais o que fazer.
Agora, antes que um raio de sol me interrompa e estrague tudo, eu te falo o que você deve estar se perguntando. Apesar da semelhança, eu não sou você. Mais uma vez, preste atenção, eu não sou você. Não importa o quanto você queira negar. Ao abrir os olhos, lembre-se que eu sou o seu herói. Tente me imitar, é tudo que você pode desejar. E eu não falo isso com presunção, falo como alguém que sobrevive dos seus desejos bobos.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

sobre o agora

A falta de inspiração é o pior pesadelo de qualquer pessoa que precisa produzir algo. Mesmo tendo um tema na cabeça e a idéia de onde você quer chegar, as vezes as coisas simplesmente não fluem.
Preguiça, cansaço, stress. Essas coisas podem até influir, mas se você não consegue ligar aquele “piloto automático”, não adianta tentar. Se não fosse pelo computador, a lixeira lotaria muito mais rápido com papéis amassados e idéias mortas.
É isso que está ocorrendo comigo, então eu estou te enrolando até aqui com essa coisa de metalinguagem. Se você leu até aqui pode parar se quiser. Eu vou apenas enrolar mais um pouco para o texto não ficar muito curto em comparação com os outros e assim chamar atenção – a preguiça faz as pessoas procurarem o que é mais fácil, mais rápido, ou seja, um texto curto. Esse texto não merece destaque algum entre o que já foi produzido para esse local.
Se você chegou até aqui é um herói. Talvez tenha pensado que vale a pena esperar por alguma frase que lhe importe. Ou não. Não sei. Desculpe-me.
Só mais um pouco agora. Acredito que desse tamanho ele já fique ali como um bloquinho invisível de palavras. Até.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

A pedra e a porta III

A pedra ouvia incrédula as palavras da lixeira. "Não pode ser verdade. Tenho fé na pureza de minha amada." Mas a lixeira continuou a semear a discórdia e confirmou o ditado: água mole em pedra dura, tanto bate até que fura. A pedra que antes fingia não ouvir agora já olhava atravessado para a suja Iago. Pediu então a um grilo, que ali perto estava, que fosse até a porta indagá-la sobre. Num pulo, chegou. A porta surpresa começou a gaguejar a resposta. O grilo estranhou. Ela proferiu impropérios sobre a lixeira, disse para não dar ouvidos, contou a versão verdadeira sobre os dois. Mas contou. Noutro pulo, o grilo voltou e reportou o que ouvira a porta, mas de trás-pra-frente. Quando ouviu sobre a existência do caso não quis ouvir mais nada, nem a versão verdadeira. Estilhaçou-se em mil pedaços.

O dia seguinte amanheceu com nuvens negras a anunciar tragédia e tempestade. A pedra mostrava olheiras semblante carregado e um hálito de bebida. A porta de tanto chorar a noite estava meio envergada. A lixeira se ria por dentro. Os primeiros pingos caíram antes do almoço; depois dele, o vendaval e a enxurrada limpavam tudo que se passara há pouco, a sujeira e a beleza. A pedra nem ofereceu resistência, deixou-se levar para o bueiro. A porta assistia desesperada ao desfecho. Num impulso, trancou-se. As pessoas batiam querendo fugir da chuva, mas não abria. Até que vieram três e noutro impulso fizeram-na em pedaços.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

sobre postais

Era manhã de domingo e, como de costume, ele foi comprar pães e o jornal. Ao chegar na banca, encontrou pendurado um expositor de cartões postais que jamais havia reparado. Imaginou que já estava ali há bastante tempo pelo amarelado do plástico.
Correu os olhos por aquelas imagens que traziam lembranças de algumas viagens e parou quando encontrou o postal de um lugar que nunca tinha visto tampouco escutado a respeito.
A foto mostrava uma árvore florida, um balanço e um lago ao fundo. Ele olhou, fechou os olhos e imaginou como seria bom estar ali algum dia. Acabou levando somente o jornal, mas a lembrança daquele postal ainda iria lhe acompanhar.
Continuou em sua rotina até o dia que surgiu a chance: iria atrás daquele lugar. Estava decidido a arriscar-se pela perigosa estrada que o levaria, o risco parecia valer a pena. Tomou coragem, se preparou e foi.
Chegou e logo estava vendo aquela bela imagem do postal. As flores da árvore caiam aos poucos com o vento que também fazia o balanço se movimentar lentamente. O lago transmitia uma sensação de calma que poucas vezes sentira.
Mas ao olhar para trás, encontrou uma cidade ainda mais feia do que aquela da onde partiu. Não conseguiu se imaginar feliz ali. Não foi para isso que ele correra tantos riscos. Não deixaria tudo para trás por uma única paisagem se o resto estava em ruínas. Mais uma vez, foi enganado por uma imagem bonita, assim como talvez outras imagens não tão bonitas o tenham afastado de lugares que lhe cativariam.
Mas ele não pensou nisso, voltou para sua cidade disposto a não acreditar em mais nenhuma imagem. Ali, seguiu comprando seus pães e jornal, até seu último domingo.

sábado, 6 de setembro de 2008

A pedra e a porta II

Era manhã. Da padaria, o cheiro de café pão e baunilha misturava-se a outro, viscoso e amargo. Estava agitada. Ouviam-se gritos e barulhos secos e surdos. De repente, um homem pingando sangue e meio encurvado rompe de dentro correndo. Esbarra nos jornais da banca e termina o banho de sangue. Levanta-se e sai em disparada novamente. No meio da correria desafogada, chuta uma pedra. Ela atravessa a rua num vôo insólito entre carros e pedestres e pânico e acerta uma porta na calçada oposta. Foi o encontro. A porta ficou estarrecida com o beijo roubado, que acabara de fazer outra marca em sua superfície – e outra por dentro. Mas esta contaria uma história de amor bonita. O casal não acreditava na ironia do destino. Estavam naquela fase alter-goísta, só tinham olhos um para o outro (metáfora da metáfora, uma vez que pedras e portas são seres desprovidos de olhos, mas nem por isso deixam de ver o que acontece em derredor). Não se importavam de seu amor ser fruto de sangue derramado. Assim acontecia nos grandes romances. Pelo contrário, até sentiam-se envaidecidos, com o prenúncio de uma grande história de amor.

A pedra fazia as juras de amor mais doces e a porta as ouvia toda derretida. A vida agora era boa e não precisava de explicações. Bastavam as sensações.

Quando a tarde o lugar tranqüilizou-se, os dois fizeram planos e marcaram a data. O sol ainda arrastava seus últimos raios a iluminar o casal. Foi quando outro de repente aconteceu. De supetão, num movimento brusco, a porta se abriu. Os dois se tocaram com tamanha intensidade que nenhum poeta seria capaz de cantar o gozo de ambos. Mas quando recuperadas as consciências, viram-se separados. A pedra fora jogada para a calçada perto da lixeira. O destino parecia vir cobrar pelo feliz acaso da manha. De dentro do prédio, uma moça sai eufórica para cair nos braços de seu namorado.

A noite já ia alta. A pedra amargava a situação. A porta, chorava. Vendo isso, a lixeira principiou, como quem não queria nada, uma conversa com a pedra: “Comigo também foi assim. Me cuidei me limpei me humilhei. Ela fingiu amar. Comprei anel, botei no papel. Mas quando me descobriu pobre e suja: me largou.”

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

A pedra e a porta I

Era uma rua do centro. Muitas pernas passando, olhos a espiar manchetes e aqueles cheiros de pão, café e baunilha que saíam da padaria. Devido a sua baixa estatura, não conseguia desfrutar dessa atmosfera as notícias, mas não era mal informada: as pessoas às vezes liam, espantadas, algumas delas e não foi difícil descobrir uma regularidade no que ocorria no mundo animal, no humano, sobretudo. O reino mineral era mais parado, mas a ironia só vale aos olhares desatentos dos que se moviam de um lado para outro sem chegar a lugar nenhum. A reflexão é dela, da pedra que vivia na rua do centro, a suspirar o perfume da padaria, se distrair com os pés - que às vezes a faziam mudar de ponto de vista -, mas sem distrair-se de onde estava o seu amor: do outro lado da rua.

Mesmo sendo caminho obrigatório para muitos, não recebia a atenção devida. Pelo contrário, às vezes tratavam-na grosseiramente, com pontapés e empurrões, batidas exageradas e até xingamentos quando ao girar sua cintura não se abria. Ficava quase na calçada, separada apenas por um degrau / batente; era madeira nobre, mas exposta ao tempo foi perdendo a majestade (exterior). Seus vincos contavam uma vida triste: desde a extração ilegal que separou sua família até os destratos humanos do dia-a-dia. O amor também não tinha sido gentil com ela: apaixonou-se uma vez pela lixeira do mesmo prédio que fazia parte, mas esta só a procurava quando suja e fedida, no resto do dia se exibia garbosa aos olhares atrevidos. Há pouco, a porta percebera os galanteios de uma pedra do outro lado da rua.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Por um horário melhor

Eu não sei como é que tá aí. Mas aqui tá assim: sou cabeleireiro, trabalho com povo, por isso sei do que a cidade precisa. Sou vendedor, advogado, sorveteiro... Pensando nisso, e em outros discursos, tomei a liberdade de redigir alguns mandamentos para os candidatos:

1 – Não farás rima com teu nome, muito menos repetirás teu nome por todo o tempo que a você foi destinado.

2 – Não falarás como se fosse meu amigo, muito menos como se estivesse embalsamado.

3 – Não dirás que sua proposta é fazer uma cidade melhor.

4 – Não tocarás uma música triste quando for falar do mandato atual.

5 – Não tocarás Living a vida Loca se você for o prefeito atual.

6 – Se subir nas pesquisas, de 1% para 2%, não dirás que a marcha da vitória começou.

7 – Não dirás “você já me conhece”. Não conheço, não conhecerei, não quero conhecer.

8 – Não moverás os olhos ao ler o texto.Lembre-se, seus olhos são como você, firmes e decididos.

9 – Não dançarás. Sob hipótese alguma dançarás.

10 –Não pularás nos braços do povo ao final do discurso. Isso já resultou em várias tragédias.