quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Sujo

Regulou no inverno e girou a válvula. As primeiras gotas começaram a cair. Respirou de alívio, precisava se limpar. Pegou o sabonete de glicerina e começou a se ensaboar. O banho era quase uma terapia, nele era quando tinha os pensamentos mais altos resolvia questões existenciais e discutia filosofias. O vapor começou a tomar conta do banheiro. Gostava de respirar o ar úmido, sentia que se lavava por dentro também. Pegou a bucha e começou a esfregar o corpo ensaboado. A superfície áspera em atrito com seu corpo aumentava a sensação de limpeza. Como se a dor purificasse ainda mais. Auto-flagelação dos membros mais fanáticos da Opus Dei. Mas algo acontecia. Se sentia de forma estranha. Esfregou-se mais um pouco e enxaguou-se. Mas não sentia o corpo limpo. Sabonete no fim, abriu outro. Tornou a ensaboar, esfregar e enxaguar: mas ainda não se sentia livre da sujeira. Repetiu ainda uma terceira vez todo o processo. O vapor aumentava, mesmo assim fechou um pouco a válvula para tornar a água mais quente. Esfregou-se mais e freneticamente. A pele começou a ficar vermelha. Mas era insuficiente. Olhou para a pedra para esfregar o calcanhar. Pegou-a e começou a passá-la no corpo todo, inclusive no rosto. As primeiras lágrimas de dor começaram a cair mas não conseguia parar. Aumentou mais ainda a temperatura da água. O vapor já deixava a atmosfera sufocante. Escorrendo pelo corpo junto ao sabão e água já se notava um pouco de sangue. No entanto, a pedra continuava áspera a dilacerar a derme. Friccionava-a contra o corpo cada vez mais. Começou a soluçar e chorar convulsivamente. Todo o corpo tremia, mas não conseguia deter as mãos pressionando a pedra contra a pele. Gemia de dor. Mas guardava um sorriso pelo excitamento de sentir a limpeza. Dilacerava até o próprio sexo a fim de remover toda sujeira. No chão, os pés pisavam sangue e espuma, o ralo entupia-se com pedaços de pele. Com nojo da sujeira que o tomava rompeu num violento vômito. A pedra continuava, rasgando seus tecidos. A sujeira era inextirpável. Tomava conta de seu corpo, era parte dele, era ele próprio. Não agüentou e desmaiou de dor. Na queda, sua cabeça bateu na válvula abrindo um profundo corte na cabeça. Sangrou até morrer.

3 comentários:

grazi shimizu disse...

eu queria que as caras feitas ao ler algumas histórias fossem possíveis de serem descritas e comentadas aqui. jesus! [o que significa que está tão bom que eu não consigo comentar. tô meio com nojo do cara sujo. rs]

Anônimo disse...

O contato com certas experiências nos deixam sujo, e esta sujeira não sai o tempo nos prova isto.

david santoza disse...

por deus! que máximo isso!
caralho, não sei mais o que dizer!
só que gostei muito do que li aqui.