quarta-feira, 24 de setembro de 2008

F. na padaria

Três pessoas ainda na sua frente. Já escolhera os pães que queria levar. Mas, provavelmente, não os levaria. Ou porque algum dos três, ou eles todos, por terem a vantagem física os levaria antes; ou pela incapacidade telepática da atendente de adivinhar os pães escolhidos – uma vez que a distância que o separa dos pães é de consideráveis dois metros, com um balcão de barreira entre, "aquele ali perto do vidro, isso! agora o que está formando a Ursa Maior com aqueles outros..."difícil seria muito difícil dizer à moça quais eram os escolhidos, foram escolhidos pela aparência, sim, os mais aprumáveis, mas tinha algo além disso alguma coisa inexprimível que o fizera escolher aqueles.

Por falar nessa moça, quais seriam os critérios usados por ela para a seleção dos pães?
Porque ela não deve simplesmente recolher no saco pães ao acaso. Isso seria um absurdo.
Será que ela associa os pães às pessoas, traçando uma mística ligação entre estas e aqueles? Seria essa habilidade um pré-requisito na arte ou no ofício de escolhedora de pães? Mesmo que isso ocorra inconscientemente. Freud explica. Breton escreve. Dali pensou que pintava. Mas se é inconsciente, nem Breton escrevia. Tampouco Freud explicava.

Aposto que é isso: ela olha o rosto do freguês, analisa como ele faz o pedido (o que pode variar muito), identifica o timbre da voz etc e parte em busca dos pães certos! Quem diria quantos mistérios há no nosso pão de cada dia. Se considerarmos que o Universo segue uma lógica, isso pode ser bem verdade.

2 comentários:

Cadu disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Cadu disse...

Hauahuahauhauaha, adoro quando coisas do dia a dia são analisadas friamente!

Muito bom, Sebá!