quinta-feira, 31 de julho de 2008

Silvia Renata

Durante séculos as mulheres foram reprimidas pelos homens, cenário que foi modificado com a Revolução Sexual. Hoje a situação se encontra totalmente invertida, as mulheres reprimem os homens.
E isso acontece desde o momento em que recebemos o nosso cromossomo Y, e uma mulher nos abriga em sua barriga por 9 meses. Só por causa dessa estadia, elas já pensam que são mais donas de nós do que o cara que nos passou o tal cromossomo. E assim começa a lavagem cerebral. Nossa sociedade está sendo criada por mulheres. Não são apenas as mães, são tias, avós, professoras e até mesmo desconhecidas. Você não pode fazer nada que já vem uma voz: “não coma com as mãos, menino”, “vai jogar bola de novo, menino?”, “arrotar é coisa de porco, menino”, “ô menino, vai botar uma roupa que temos visita”...
Mas somos como bactérias. Se não nos combaterem direito vamos ficando cada vez mais resistentes. Aprendemos a lidar com elas aos poucos. Dão bronca na gente, pedimos desculpas. Pede alguma coisa, prometemos que iremos fazer. Simplesmente sorrimos e concordamos. Mas continuamos ali, com aquele homem das cavernas em stand by, prontos para destruir a harmonia do universo.
E como disse, isso vai indo desde o começo da nossa vida. Crescemos um pouco e vamos pro colégio odiar as meninas. Crescemos mais um pouco e as amamos. Depois simplesmente suportamos. Temos que que ir nos adaptando para cada novidade.
Eu estava conseguindo levar até que bem esse jogo e minha vida ia seguindo seu ritmo, até eu conhecer Silvia Renata.
Cheguei atrasado, claro, e lá estava ela com o sorriso no rosto.
- Qual é seu nome?
- Fábio.
- Hum, seu horário não era 11 horas?
- É... Mas você sabe como é o trânsito nessa cidade né?
- Sei... Espere um pouco.
Depois de meia hora lendo Contigo, ela volta.
- Vamos lá, Fábio?
Juro que só de escrever essa frase e lembrar dela a falando me dá vontade de chorar. Maldita Silvia Renata, a fisioterapeuta mais sanguinária que já conheci.
- Ih Fábio, tá fraquinho hein!
Pensamento: Fraquinho? Ô maldição de mulher, você colocou dois quilos numa perna que dói só com a força da gravidade!
- Hehe, é que eu fiquei com ela imobilizada por um tempo.
Ela passa mais um exercício e me deixa só, naquele retângulo com duas divisórias, aquele lugar é o porão do Dops para mim.
E volta a torturadora.
- Pra que time você torce?
Pensamento: nenhum pensamento, naquela hora a dor era tanta que não conseguia pensar.
- Aaaaah... São Paulo, eu torço pro São Paulo.
- Que bom, se não fosse são-paulino eu ia colocar carga extra.
Pensamento: Morfina! Eutanásia! Eu quero qualquer coisa! Acabe logo com isso!
E cada vez ela é mais cruel. Dor, dor e mais dor somados àquela conversa jogada fora. Sim, seu joelho também doeu ontem, S.R.. É, só faltam algumas sessões. Verdade, quem mora sozinho é obrigado a aprender a cozinhar.
- Por hoje é só! Tá liberado. Até amanhã, Fábio.
- Até amanhã!
Pensamento: Case comigo!

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Fado tropical

Quem diria que de seu maravilhoso mundo, Alice discutia metaforicamente questões terrestres, mais especificamente questões sub-terrestres:

“Take some more tea,” the March Hare said to Alice, very earnestly.
“I’ve had nothing yet”, Alice replied in an offended tone, “so I can’t take more.”
“You mean you can’t take less,” said the Hatter: “it’s very easy to take more than nothing.”

Ah Alice, se Celso Amorim pudesse ao menos te ouvir; veria que não é a primeira vítima do cinismo de outrem. Mas no meio daquela confusão de interesses, que torna aquelas longas rodadas e todas aquelas discussões improdutivas tão patéticas, ninguém dá ouvido a ninguém. A frase da propaganda nazista “Uma mentira repetida mil vezes se torna verdade.” ilustrou bem as intenções dos países ricos. No fundo, a metrópole não admite rebeldia da colônia. Imagino os representantes comerciais dos EUA e UE, Susan Schwab e Jose Manuel Durão Barroso, numa conversa: “Que isso? Veja só Schwab, eles querem um acordo que os beneficiem!” “Haha...é realmente muita petulância, Durão.”

Agora todos tentam amenizar, inclusive Amorim, dizendo que todos perderam (alguns menos, outros mais) com a Rodada de Doha. Ora, não é preciso ser nenhum especialista em política externa para perceber que se os subsídios e os créditos agrícolas vão continuar; tarifas de exportação ou importação: nada vai mudar; barreiras fitossanitárias? cri...cri...cri ; etanol da cana-de-açúcar então...Enfim, os países pobres são os perdedores.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Jornada Dupla

Depois do divórcio, as coisas ficaram cada vez mais confusas para ela. Havia agora um espaço livre em sua agenda que ela não sabia preencher. A princípio aquilo serviu-lhe de descanso, mas foi passageiro.
Tornou-se então uma viciada em trabalho – não de um dia pro outro, mas de maneira lenta e gradual, o que é ainda pior. Enfermeira atarefada como era, nunca tinha pausa em seu expediente. Nem por isso era necessário dobrá-lo, como fez. No primeiro momento, a chefia foi contra, mas ela não exigia nenhuma mudança no pagamento. E que chefe não aceitaria um acordo desses?
Apesar de dormir cada vez menos, voltava agora a se sentir feliz e descansada. Já voltava a pensar na família, no marido bem sucedido e nas crianças que foram ficar com ele. Sentindo-se tão bem, percebeu que já podia voltar ao estilo de vida normal. A chefia não aceitou, alegando que duas outras enfermeiras já haviam sido despedidas por causa dela.
O que se passou a seguir é que foi curioso. Em seu sono extremamente diminuto, passou a sonhar demasiadamente. Sonhos bons, ruins, muitos sem o menor sentido – como acontece com a maioria das pessoas. O problema é que trazia problemas do trabalho para casa e isso passara a impregnar seus sonhos – também de maneira lenta e gradual. Sonhava com coisas que haviam acontecido ou que ainda estavam para acontecer.Seu sono agora estava cheio de pacientes, cicatrizes, curativos...
Em pouco tempo aquilo passara a ser usual, até o dia em que o sonho deixou de parecer sonho. Não sabia mais se dormia ou estava acordada. Podia tomar todas as drogas do hospital para acordar, mas havia a possibilidade de que não estivesse dormindo. Acostumou-se com a situação: uma vida dupla. Se bem que não se tratava de uma bipolaridade, nem de nenhum distúrbio desse tipo. Estava mais para uma rotina dividida em duas história idênticas, um déjà vu permanente. Todas as histórias começavam com ela acordando e terminavam com ela indo dormir. Já não havia mais sonho para aliviar a vida, nem vida para aliviar o sonho.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Terminal

Na semana passada tive um reencontro diferente.
Já estou habituado a voltar para minha cidade e acabar encontrando amigos que não esperava encontrar; confesso que ando displicente com minhas amizades.
Mas o reencontro da semana passada foi algo mais forte. Não encontrei ninguém. Bom, na verdade até encontrei, mas era uma massa de pessoas desconhecidas. Me deparei com um pedaço de madeira fincado no chão - também conhecido como ponto de ônibus – no terminal de uma estação de metrô.
Parado ali, já desacostumado com a eterna espera pelo 4709 que por tantos quilômetros me levou, encontrei não só aquele pedaço de madeira, mas um turbilhão de lembranças.
Parecia que eu tinha recebido um novo par de olhos, e estes tinham o poder de me levar para o passado.
Ali eu comecei a sentir o sono por ter acordado tão cedo pra ir pro cursinho, a fome e o calor daquelas 13 horas da tarde. Lembrei e me segurei para não rir de tantas piadas que parado ali escutei de um amigo. Senti a mão da garota segurando na minha e quando olhei para seu rosto, ela reclamou que ônibus não chegava nunca. Aquilo me causou um estranhamento, porque ela sempre reclamava que o ônibus chegava e tínhamos que ir. Mas não estranhei só isso, a voz dela estava estranha.
* voltando aos olhos da realidade *
Percebi que não era a garota, era um senhor de boina. Respondi brevemente com um sorriso e fechei os olhos querendo voltar ao passado.
Quando abri os olhos, lá estava o senhor comendo seus pães de queijo.
Eu ainda sentia fome, mas o calor do horário do almoço foi substituído por uma fria garoa de começo de noite – o que torna tudo isso ainda mais cafona. O meu amigo foi substituído por uma moça esperta, a única que tinha um guarda-chuva naquele lugar, mas com certeza ela não faria piadas tão boas. A garota era aquele senhor de boina e, definitivamente, eu não tinha vontade de pegar na sua mão.

domingo, 27 de julho de 2008

Pensamentos Inacabados

Por Julia Formis Giglio

Dizem que não é necessário ter grande dom para se escrever uma crônica. Pois eu acho isso uma enorme mentira.
O cronista tem sempre um quê de mistério, revela gosto pelas piadas do dia-a-dia, faz de tudo uma boa história, acredita em cada palavra que diz, é fã de suas manias e espectador dos seus momentos de criatividade. Sem contar na pouca e/ou falsa modéstia.

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Droga! Odeio quando a campainha toca e interrompe o fluxo de idéias, eles já são tão raros...
Ao menos dessa vez não foi inútil. Diferente dos inúmeros telefonemas anteriores, me assustaram, eram a cobrar, e agora é 1 da manhã, passada.

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Enfim, voltando.
Confesso que li tudo o que já foi escrito antes dessa data, e que cada palavra me serviu de inspiração. Por que eu não sou uma pessoa de talento nato (visivelmente). Sabe quando você precisa de um empurrãozinho??
Na verdade, acho que escrever (crônicas) é igual andar de bicicleta. Se não fosse o seu pai pra colocar as rodinhas, ou te segurar por trás do banco no dia em que você resolve tentar sem apoio, você nunca teria aprendido.
Mas como diz o clichê, aprendeu uma vez, nunca mais esquece. Por isso não se desaprende a escrever. E por isso, também, eu resolvi tentar (mas, por enquanto, ainda tem alguém segurando o banquinho).
De qualquer forma, hoje o dia foi de poucas palavras, e eu não sei ao certo sobre o que escrever.
Sem grandes confraternizações,
a casa está pacata e fria (gélida, eu diria),
os amigos não apareceram,
são apenas compromissos profissionais,
e falsidade.

É tão difícil saber sobe o que falar sem ser chata, redundante ou repetitiva. É legal ser diferente, eu não diria inovadora, por que seria muita pretensão.
Mas porque não informativa. Não, não, muito técnico.
Quem sabe, inédita. Um pouco audacioso da minha parte.
Acho que posso querer ser única. Ou própria. É, acho que sim.


Mas de que isso adianta? As palavras são sempre as mesmas, a ordem deve ser sempre direta e as idéias objetivas.
Quero ser prolixa, falar em círculos e não concluir minhas idéias.
Cansei, isso não é pra mim...

sábado, 26 de julho de 2008

Vincente (1/?)

Já era noite avançada e Vincente ainda não conseguira dormir. Era um daqueles momentos em que você não quer pensar em nada: paradoxalmente, pensa eu tudo. Lembrou-se do que uma atriz dissera uma vez: “Se pudesse vender todos os pensamentos que tenho no chuveiro, ficaria rica.” Era, mais ou menos, assim. Às vezes, antes do sono, realizava raciocínios fantásticos, maquinava planos que poderiam acabar com a fome no mundo, descobria meios para pôr fim a violência, apertava ao peito mais humanidades do que Cristo, fazia em segredo filosofias que nenhum Kant escreveu. Lera certa vez: “Se meu travesseiro se transformasse numa impressora...”. Seria uma solução.

Acordou atrasado. Precisava de uma hora entre o despertar e o seu trabalho; tinha uns quarenta minutos. O banho teria de ficar pra noite, estava frio mesmo. Colocou a água pra ferver: o café era imprescindível. Deixar de tomá-lo significava sacrificar um dia inteiro, perambulando por aí feito um zumbi entre o sono e a vigília, sem se sentir realmente acordado. Café com pão e manteiga, leite, também era preciso cálcio. Mais café. Cigarro na sacada. Agora estava preparado. Faltava apenas escovar os dentes. Banheiro, olhada no espelho, armário, escova, água, pasta. Pasta! O tubo todo retorcido anunciava seu companheiro da manhã: o mau-hálito. No meio do caminho podia até comprar uma balinha ou um chiclete, mas o pouco de pasta que restava não disfarçou muito bem o amarelo do café e a lembrança do cigarro deixava vestígios, quanto a isso sem grandes lamentos, não seria o último mesmo.

A caminho do trabalho, uma parada na banca pra balinha. Parada de emergência. Se bem que hoje não era ele mesmo quem iria abrir a biblioteca; tudo bem chegar um pouco atrasado. Olho no balcão a escolher...uma olhada inconsciente nas revistas...Acabara de chegar sua revista semanal! O dinheiro só dava pra uma ou outra, escolha de sofia: o bafo ou a revista. “A política, economia e cultura são mais importantes que um leve mau-hálito. Não cederei ao apelo do marketing incutido em minha cabeça desde criança que as pessoas com mau-hálito são desprezíveis, devendo todas se entupirem de gomas e balas.” Pensou com Jiminy Cricket, num impulso comunista. A revista.

Chegou no trabalho. Vincente era guarda-livros na biblioteca municipal. Sabia que não era grande coisa, mas os livros davam um apoio. Cumpridas as burocracias, desculpas pelo atraso pedidas: ao trabalho. No dia anterior, apesar de ter ficado até tarde, não tinha conseguido arrumar uns arquivos. Retomou o trabalho.

Apesar do volume dos papéis o trabalho estava tranqüilo. Disfarçava bem seu problema (o bafo), quando as pessoas perguntavam algo, Vincente respondia meio de lado, dava pra contornar. Já era quase hora do almoço também, dava pra passar numa farmácia e resolver (a escova trazia consigo pra depois do almoço). De repente entra na biblioteca uma amiga sua. Uma daquelas do tempo colegial. Bonita. Pela qual guardava uma sensação bandeiriana de: aquela que poderia ter sido e que não foi.

Eram bem amigos no tempo de escola, mas depois do último ano, vestibular e cada um vai pra um lado, não se viam quase nunca. (Vincente não se dera bem nas provas, mas também não ligava muito pra faculdade, deixou os pais e veio morar sozinho na capital na promessa de fazer cursinho e trabalhar. Trabalhar ele cumpriu, mas o cursinho adiava. Já Débora fazia letras.) Vincente já sentiu o peso da mão de Murphy na situação: nunca via a menina, quando via não podia falar com ela direito (o bafo). Ela muito sorridente veio falar com ele, perguntou e contou as novidades, conversa vai e conversa vem (o pobre sempre a falar pra baixo, ou com a mão na frente da boca disfarçando...).
- Ô Vincente, cê sabe se tem aí o Cheiro do Ralo?
- Quê? Quê ralo? Será que ela ta tirando sarro por causa do bafo? Pensou.
- O Cheiro do Ralo, Vincente.
- O Débora, não tô sentindo cheiro nenhum não.
A menina riu:
- Cê tá parecendo o cara do filme: “Esse cheiro não é meu não. É do ralo, olha.” Disse imitando a voz de Lourenço (o protagonista).
Vincente deu um sorriso - amarelo:
- Ah tá. Entendi. O filme, sei.
- Então, é baseado num livro. O autor é o cara que faz o segurança, sabe? Já assistiu?
Ele já tinha assistido, mas disse que não, queria mudar de assunto.
- Ah não acredito. Se você quiser a gente pode assistir. To com ele em casa ainda. Já assisti ontem mas assisto de novo, é bem legal. O Selton Mello tá muito fera. Faz tempo que a gente não conversa e eu também não agüento mais minha mãe perguntar de você ! Os dois riram, Vincente meio sem graça, ela, risada sincera.

Os dois conversaram mais um pouco, a menina até se esqueceu do livro, e combinaram o filme no apartamento dela à noite. Ela não morava longe dele mesmo, eram uns vinte minutos a pé.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Sóbrio

Nunca vi tanta gente bêbada dando entrevista. É um sem nome de perguntas do tipo “Você bebeu?”, ou “Você acha que pode dirigir assim?”. Aí o camarada faz uma palhaçada e o apresentador da aquela risadinha de “Ai que saudade dos meus vinte e poucos anos”. Os telejornais, aliás, nunca foram tão engraçados. E tão monótonos (lei seca – Dantas – lei seca).
A bebida ocupa um lugar privilegiado na escala de importância dos brasileiros. Por isso mesmo a falta da bebida despertou em todos um direito cívico que andava meio de lado – quem dera as pessoas se importassem tanto com a corrupção.
É lógico que a maioria sabe lidar com o álcool. Mas assim é viver em sociedade, temos que nos livrar de alguns prazeres por causa de uma ou outra ovelha negra.
Todo mundo sempre reclama de uma situação fora de controle, mas quando o governo pede a participação popular, a lei é criticada. Que espécie de democracia é essa que o povo está esperando?. Os Estados Unidos há pouco tempo atrás processaram dezenas de empresas de cigarro. Isso porque quem mais tarde tinha que pagar pelo estrago do produto eram os hospitais públicos. Agora, quando o governo brasileiro tenta algo semelhante, todo mundo torce o nariz. Chegaram a falar que essa lei seca é coisa de país nórdico, que ela não tem nada a ver com o Brasil.
Rigorosa ou não, as pessoas têm que entender a essência da lei. A questão de quantos miligramas pode ou não pode é irrelevante. No fundo, muita gente queria sua própria lei com um critério bem brando para nunca ser pego.
Seguindo a programação, o telejornal mostra agora um acidente causado por um motorista bêbado. Desta vez, a notícia vem acompanhada por um olhar de reprovação do apresentador.
Nenhum problema em beber. Essa cultura existe em grande parte do mundo, inclusive em países de primeiríssimo mundo. O que falta é a cultura de responsabilidade. Sem essa de sou brahmeiro, trabalho o dia inteiro e mereço beber e fazer o que eu quiser. Os outros não têm nada a ver com isso.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Sobre os meus 103 anos

Eu tenho um idoso vivendo dentro de mim – sem pensar besteiras, por favor.
Gosto de música velha; não somente os clássicos, o que é normal para as pessoas da minha idade biológica, gosto daquelas músicas que são o único sucesso daquela banda que ninguém sabe onde foi parar: os P.O. Box e LS Jack de cada década.
Entre filmes, acho que nem preciso explicar muito. Grease é com certeza uma das coisas mais bela que já vi.
Eu conheço um cara que também é meio assim. Ele deve ser um ano mais novo do que eu, mas acusa uma surdez parcial e dor nas costas – resultado dos muitos anos que viveu, claro.
Eu não tenho surdez, nem dor nas costas. Tenho dor nas juntas.
Temos alguns pensamentos conservadores, mas somos idosos modernos. Sabemos adaptar o conservadorismo de acordo com o contexto atual.
Tenho saudade de épocas que não vivi. Coisas que não vi. Lugares que não existem mais.
Talvez seja um pouco de loucura ou simplesmente o resultado de uma época em que as tradições e os valores vão se perdendo aos poucos.
Tenho 103 anos, gosto de Roberto Carlos e me chamo Phábio.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Obituário

Também prestarei homenagem à Dolores Gonçalves Costa, mais pela atriz que pelo deboche. Lembro de uma entrevista sua, feita ano passado, saiu como reportagem especial no caderno Mais, nela descobri que Dercy era bem mais que xingamentos naquele estilo desbocado, aliás, sobre eles dizia: “Palavrão é corrupção, é tratar mal as pessoas, desonestidade etc.” Sábia Dolores; já escreveu Ruy Castro: “No ano de seu nascimento, 1905, o presidente da República era Rodrigues Alves. Seguiram-se 24 presidentes, três golpes de Estado, duas longas ditaduras, um suicídio, uma vacância por morte e um impeachment.”É mesmo bastante tempo.

Descobri ainda uma irmã sua, devem ter sido separadas no nascimento, não é possível. Sabem Giulietta Masina? Atriz e esposa do Fellini. Então:






Dercy é a com as plumas. (imprescindível distinção)
Seguindo viagem através do rio Aqueronte também está o pai da Regina Casé (Geraldo Casé). Triste, não é? Nem quando o sujeito morre retoma sua personalidade. Será sempre o pai da fulana, ainda mais (triste) se a fulana for Regina Casé. No tempo do Asdrúbal trouxe o trombone tudo bem, mas ultimamente, com programas tipo Muvuca ou aqueles na periferia, não dá né. Ela ainda atribuiu tudo que fez ao pai. Pobre, deve ter remexido até no caixão.

Essa semana a barca de Caronte vai cheia. A cada dia que ligava a TV era um assassínio cometido pela polícia no Rio (e no Brasil); às vezes eu até pensava que a programação estava sendo reprisada. Tal situação me lembrou aquela música do Chico: “Acorda amor”, “Minha nossa santa criatura...Chame o ladrão”. Que coisa, a Bossa comemorando seus 50 anos, no entanto, é outro samba que segue ao fundo; nada de praia, barquinho ou garotas pelo calçadão. Sei que o Rio de Janeiro não é só aquele dos telejornais ou novelas; que a visão que temos é alienada e esteriotipada etc; mas não é à toa que isso ocorre, não é verdade?

terça-feira, 22 de julho de 2008

Um segundo, segundo Aurélio

Por ocasião da morte de Dercy Gonçalves, vai aqui uma pequena história sobre o tempo.
O filho entrou no carro e, olhando pro relógio, perguntou:
- Pai, quanto tempo dura um segundo?
O homem, que perdera o horário e se atrasara ainda mais com a fila de carros em frente à escola, parou o carro. Pelo azul de suas veias no vermelho de sua cara dava pra ver que estava nervoso:
-Um segundo, já que você quer saber, é o tempo que demora pra me levarem esse carro. Essa lata velha que eu ainda nem terminei de pagar. Uma Ferrari vai de 0 a 100 km em alguns segundos, e essa carroça, não. É isso que você quer saber? Melhor ainda, um segundo de loucura foi o que me levou a me casar com a bruxa da sua mãe. Agora, alguns segundos é o tempo que ela me deixa ver você. Aliás, apenas o relógio ela me deixou. Ainda bem que não era de ouro. Se fosse de ouro teria que contar os segundos mentalmente pra saber quando posso te visitar. Por falar em ouro, não sei se já te informaram, mas tempo é dinheiro. E você, meu caro, me custa centenas de milhares de segundos. Hoje em dia você pode até pensar que é muito rico com todos esses seus segundos. Mas eles acabam mais rápido do que você pensa, viu? Por isso mesmo chamam-se segundos, os primeiros sempre acabam antes que você perceba. Os segundos, veja você, duram um tempo que ninguém sabe quanto é, mas que acaba. Assim como acabam os tempos dentro desse tempo.
Na verdade, isso foi o que ele pensou. O que ele falou foi isso:
- Um segundo? Aqui está. Acabou. Aqui está. Acabou. Aqui está. Acabou.
Esse segundo, como muitos outros, durou por toda a vida do menino. Mas nem por isso deixou de ser um segundo.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Adeus Dercy

Não esconderei que recebi a notícia com certo choque. Já estava muito nítido para mim que a Dercy tinha achado uma forma de conseguir a imortalidade, mas foi uma pneumonia que conseguiu derrubar essa mulher que viveu mais de um século.
O que não foi surpresa foi saber que uma das últimas coisas que essa senhora fez foi ir a um bingo clandestino. Imagino-a nesse bingo, mesmo com as desvantagens da idade avançada e ainda doente, proferindo palavrões a cada número sorteado que não lhe alegrasse.
Eu não faço planos para viver cem anos, na verdade acho que uns cinqüenta anos já sejam suficientes. Vamos considerar que com uns quatro, cinco anos de idade a gente já consiga ter algum entendimento que existimos. Então ficamos uns dez anos sem fazer nada. Depois disso, encontramos algumas “preocupações” que duram um período de três a cinco anos. Pronto, ai sim começa uma vida mais plena, com mais responsabilidade - claro que isso não serve para todos.
Se for assim, passam uns dezoito anos em que simplesmente estamos por ai, sem muita diferença. Após isso começamos a fazer parte do mundo de forma efetiva, se fizermos isso até os cinqüenta, serão trinta e dois anos dessa vida. Pra quem ficou dezoito sem fazer nada, parece ser suficiente.
Tem algumas pessoas que precisam, sim, viver mais que isso, mas são exceções que têm papel mais importante do que o resto dos mortais.
Eu mesmo já estarei cansado de tudo isso daqui a trinta anos. Estarei esperando minha pneumonia.

sábado, 19 de julho de 2008

A falta que ela me faz *

Nos primeiros dias, a sensação de autonomia e liberdade garantia uma satisfação quase plena. Como se eu me bastasse. Depender de alguém era coisa para os fracos. O fato de não ter alguém ali cuidando do que você faz, ou melhor, deixou de fazer, era os grilhões arrebentando-se.

Mas o tempo passou. A filosofia que pensei pra disfarçar a falta dela já estava desgastada. Gostava de pensar que limpando minha casa, minha própria sujeira era como se estivesse realizando uma limpeza em mim mesmo (profunda essa filosofia, não?), como se fizesse uma limpeza em minha própria personalidade. Não que eu ache indigno o serviço das faxineiras e precisasse de algo reconfortante por realizar um trabalho degradante. Nem pensar. Mas se se parar pra pensar, isso faz um pouco de sentido. Acho que todos deveriam limpar as próprias sujeiras, querendo ou não, aquilo ali era um pouco de você (existem mais sujeiras além dessa que você está pensando...).

* Do título

Tirei esse título de uma crônica do Fernando Sabino, não só o título, na verdade; mas minha crônica - bem magra por sinal: é o trabalho árduo da escolha de palavras que resumissem frases inteiras, muita objetividade e concisão – não chega a ser um plágio a de Sabino. Esta ainda dá nome ao livro do autor, “A falta que ela me faz”, você pensa que vai ser uma pieguice deslavada, aí... Muito boa a crônica dele, conta uma vez que resolveu dar férias pra empregada e passadas três semanas a casa era um lugar inóspito.
“Os jornais continuavam chegando e já havia jornal velho para todo lado, sem que eu soubesse como pôr a funcionar o mecanismo que os fazia desaparecer.” Muito bom!

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Logo ao lado

Quando alguém morre e aparece nos jornais – como no caso da menina Isabela, ou dos meninos da Providência- a gente lembra que existe violência. A imprensa alarma aos berros o fim do mundo, e as pessoas param para escutar. “Oh não, ela existe mesmo, fechem as janelas e as portas para ela não entrar”. É inútil. Já está nas veias e correndo pelo corpo todo.
Violência, esclarecendo, não é só a morte de uma pessoa, o espancamento de um inocente. Tudo que foge àquilo que consideramos certo nos violenta. Um trabalhador que não tem comida para dar ao filho, isso não é violento? A violência está aí. Desde o ar poluído que respiramos às mentiras que expiramos.
Um exemplo que me deram uma vez, “se a morte de um estranho por fome não te interessa, por que ele tem que se importar com a sua morte?”. Não tem. Já dizia uma música: “para quem vive na guerra, a paz nunca existiu”. Não que não haja nada de bom no mundo, obvio que há, porém as coisas ruins não chamam atenção aos nossos olhos. Pelo menos quando não é com a gente, ou com um dos nossos.
O que se tem ao final de uma vida? Algumas histórias para contar e o luto de alguns dias? A indignação, logo dissolvida em um grande balde de conformismo?
As vezes nosso distanciamento desses fatos trágicos nos impede de ver o que é uma vida. Memória, sonhos, esperanças, tristezas, ilusões, a infância, a adolescência, a fase adulta, a velhice, ter um filho, plantar uma árvore, escrever um livro.
Um corpo caído não é nada comparado a dois corpos. Três corpos. Os batimentos cardíacos abaixam, perde-se o calor da pele, e só. O sistema é o mesmo para todos. De suas diferenças que o tornavam especiais para alguns, sobrou apenas a similaridade no modo de morrer. Não devia ser ninguém de importante, nada a acrescentar ou a diminuir para a humanidade. Pelo menos, assim se presume. E pra frente com o Carnaval!

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Estiagem

Acabou a brincadeira.
Antes era “quem bebeu, bebeu; quem não bebeu, chame o garçom”.
Agora é “quem bebeu chame um táxi; quem não bebeu, pegue minhas chaves, por favor”.
A lei batizada de “Lei Seca” por alguém que desconheço, começou com tudo e abalando as estruturas das noitadas. Quem for pego com uma determinada dosagem alcoólica no sangue, que com a lei anterior resultava em uma multinha, vai pra cana.
Pode parecer irônico, mas a cana talvez seja a única solução para o problema das mortes no trânsito. Não que antes fosse uma grande festa onde todos dançavam pelas ruas, embalados pelos versos ‘beber, cair e pilotar / beber, cair e pilotar / beber cair e pilotar’, mas havia aquela aura de impunidade, quebrada com a nova lei.
Resta saber se essa lei vai pegar ou não, a tal sina de todas as leis nesse país.
Além dessa pós-aprovação da lei para que ela não vá parar com as outras leis que saem de balão e se perdem por aí, essa lei tem aquelas famosas brechas. Tem a diferença entre a infração de trânsito e o crime penal. Tem toda aquela discussão sobre cada pessoa ter uma tolerância ao álcool diferente das outras.
Na verdade pouco disso importa. A conscientização, sim, é realmente necessária.
Não será em todos os cantos do país que haverá alguém para fiscalizar como anda o bafo dos motoristas.

Retratos

I

Estava comendo alguma coisa num lugar por aí, por esses dias. Já era noite. Entrou um daqueles meninos que vendem coisas. Era bem magro e descalço, meio raquítico e anêmico, olhos fundos: deve ter faltado alguma vitamina essencial para seu desenvolvimento pleno. Olhou às pessoas ao redor. Devia estar cansado, nem foi de mesa em mesa oferecer o que vendia. Sentou-se perto de mim, perguntou: “Compra um moço?” me mostrando os imãs de geladeira. Reparei, eles tinham formas de frutas, com carinhas, braços e pernas. Alguns até sorriam. Outros, talvez por descuido do fabricante, ficaram meio sem expressão, sem graça. Enquanto a maioria se exibia de frente e sorrisos, um estava de costas. Esse era esquisito; a maioria pelo menos lembrava a fruta que representavam, esse não, não tinha uma forma definida. Ás vezes parecia uma mistura de todos; outras nenhum deles. Peguei-o na mão. A cabeça pendia pra baixo, o olhar mirava um ponto qualquer, o sorriso dava um ar mais melancólico ainda, como se sorrisse por não saber o que mais fazer. Era o único que sabia o que acontecia. Comprei-o.

“Uma parte de mim
é todo mundo;
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.”

Ferreira Gullar

II

Outra dia, andava pela calçada e logo a frente reparei um rapaz revirando uma lixeira. Era um daqueles catadores, separava o lixo para vender pra reciclagem talvez. Passa um carro, o vidro desce (vidro elétrico), escuto a voz da mulher: “Viu, vê se não deixa tudo bagunçado quando você terminar. Não quero lixo espalhado por aí.” O rapaz abaixa a cerviz: resignado e obediente.


Quadro

Se soubesse o que fazer
eu já o teria feito.
Se hoje espero, não é por resignação ou conformismo;
é porque acredito.
No meu silêncio não há lamúrias ou abafamentos.
Mastigo tudo lentamente; na garganta engasgada
o doce sabor do fel mistura-se ao sangue
dessas feridas.
Sinto próximo o momento do escarro.


Olhos fitos na parede nua,
a imaginar a moldura dos crimes que cometerei
pra aliviar toda essa cólera dentro de mim e de outros.
E os pendurar na parede a fim de aviso
aos que virão.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Réplica

Aproveitando as eleições que estão logo ali, gostaria de responder às acusações envolvendo minha gestão. Gostaria de pedir às vozes em minha cabeça que cessem as críticas.
É sempre assim, eu vou dormir e elas aparecem. Eu dou um passo em falso e elas reaparecem. Poxa vida, nos bons momentos elas não me apóiam. Puro oportunismo. Nada mais conveniente do que essas vozes dizerem que não sei o que estou fazendo nos momentos ruins.
Devíamos nos unir e lutar por um bem maior: eu. No final das contas sou sempre eu que decido mesmo. Nem às vozes aliadas eu dou muito ouvido. Esse esquema funcionou bem durante todos esses anos da minha vida.
Por esse bem maior, eu proponho a vocês uma trégua. As vozes boas param e vocês também. Imaginem só, uma boa noite de sono. Tranqüilidade de pensamento. Depois, quando eu julgar o momento mais oportuno, vocês podem voltar com força total.
Por ora, isso já seria de bom tamanho. Assim continuarei com meu trabalho, que como já disse, tem sido muito eficiente até o momento.

Filmes de Jim Carrey e minha vida - Parte 2

A primeira parte não era muito fiel à realidade. Pensar que a vida é um show é jogar a modéstia de lado e achar que o mundo está girando em volta do próprio umbigo.
Mas tem outros dois filmes do J.C. que me fazem pensar um pouco: O “Brilho eterno de uma mente sem lembranças” e o “Número 23”.
Esses filmes também me trouxeram reflexões existenciais, mas de um existir que pode ser alterado pela que nossa estranha mente. Começo a pensar nisso e já sei que vou começar a escrever e não vou chegar a lugar nenhum.
Não tenho conhecimento sobre o assunto mente, mas como todo jornalista sabe e tem opinião sobre qualquer tema – e pelo jeito esse vai ser meu destino mesmo - vou me arriscar e escrever sobre isso.

* Um breve momento de indagações
Qual o limite de nossa mente? Até que ponto ela pode criar coisas que não existem, passando a enganar ela mesma? Como e quem decide o que dela vai ser apagada (ou escondida)? Onde fica linha que separa a sanidade da loucura?

A nossa mente tem umas coisas estranhas; os brancos que temos as vezes, a criação de universos imaginários paralelos ao real, são exemplos disso. Não sei se já tem uma explicação clara sobre isso, sem que seja aquelas imagens de que área do cérebro está sendo utilizada pra tal coisa ou um lista de substâncias liberadas. Queria saber o como disso, o porquê disso.
Mas, temo que esse conhecimento chegue a tal ponto que o cinema venha para as nossas vidas. Como seria usada essa tecnologia? Sabemos muito bem como os seres humanos usam a maioria das coisas que criam, e nem sempre são da melhor forma possível.
Então não sei. Não vou tentar concluir nada. Não sei se tudo isso que chamo de vida foi criado pela minha cabeça, ou pior ainda, não sei se isso tudo foi criado por uma mente de terceiros.
Pra que continuar com tudo isso?

sábado, 12 de julho de 2008

Satiagraha

Queria saber quem dá esses nomes às operações da Polícia Federal. Um mais esquisito que o outro. Alguém sabe o que é Satiagraha?

Em sânscrito, “Satya” significa verdade. Já “agraha” quer dizer firmeza. Assim, “Satyagraha” é a firmeza na verdade, ou firmeza da verdade. Tem a ver com o príncipio da não-agressão do Gandhi. Já “Naji” quer dizer riqueza, riqueza nos nossos dias pode se entender dinheiro; “Nahas” quer dizer aquele que lava; logo, Naji Nahas, aquele que lava dinheiro (cômico se não fosse trágico).

A operação começou na terça (8) com direito à transmissão e tudo. Pitta, Nahas e Dantas e mais tantos outros acusados de um esquema milionário de corrupção, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, sonegação fiscal e formação de quadrilha foram presos. Esquema esse pisado, repisado e recalcado pela mídia grande originado no Mensalão (Marcos Valério, governo Lula etc). Poucos sabem que o começo disso tudo está nas privatizações no governo FHC, “o fio da meada está no primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, na infame marmelada das privatizações, quando o Opportunity se tornou o banco do tucanato, depois de ter prestado inestimáveis serviços ao PFL”, Mino Carta. Não que Mino Carta seja o dono da verdade, mas confio muito mais nele do que em qualquer Ali Kamel ou Otavio Frias.

Entre mandatos de prisão e habeas corpus, idas e vindas de Dantas, um juiz merece destaque: Fausto Sanctis; enquanto um presidente do STF, repúdio. Pelo menos pode-se dizer que nunca antes na história desse país as chagas do nosso judiciário foram tão cutucadas.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Filmes para a eternidade

Fui esses dias cumprir com a minha obrigação com a pátria. O ambiente era de guerra,mas parece que comigo sempre parece um filme o que acontece, daqueles do tipo seria cômico se não fosse trágico – ou o contrário. Entrei num pátio cheio de homem com um tenente chamando vários nomes no microfone. A situação era a seguinte: quem for chamado está livre do tiro de guerra – caso reste dúvida, isso era o que eu queria ouvir.
Meu primeiro nome é Sérgio,e a lista começava pelo prefixo Ri.Então se seguiram vários nomes parecidos: Ronaldo, Roberto, Romeu . Tinha milhões de caras esperando então eu relaxei. “Que venham os Ronaldos, mas que venham marchando e rodando’. De repente, já estava no Sebastião. Fiquei muito nervoso. “Sergio, Sergio, pelo amor de Deus, fala Sérgio!”.
- Tiago Silva....
Já fiquei triste. Tinha ido de ônibus pra minha cidade só pra garantir que seria dispensado. De repente, o sonho tinha terminado.
- Perdão, pulei todos os Sérgios. – Em seguida, falou meu nome, tinha sido dispensado.
Incrível. O cara fala mais de 400 nomes com um rigor de exército, não erra nada. Chega no meu e ele quase me mata de susto – nem só eu deveria me preocupar, ai de nós se eu fosse um dos encarregados de defender a pátria.
Em seguida, os dispensados, maior parte daquele grupo de marmanjos, foram pra outro pátio. Mais uma vez esperar por todos os nomes, dessa vez para pegar o certificado de dispensa. Pronto, agora acabou o filme, sem mais surpresas por favor.
- Só um minuto, tem um problema aqui... Tiago Silva!
- Pois não, senhor!
- Quem é esse homem na foto 3x4 que você me trouxe?
- Meu pai!
Deus do céu, o exército nunca foi tão divertido. Por esse final eu não esperava, quase fiquei com vontade de ser convocado – quase. E o sargento lá, meia hora falando: “ah não, Tiago, você deve tá brincando comigo, você me trouxe a foto do seu pai?!”. Oscar de protagonista mais engraçado pra você, Tiago.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Filmes de Jim Carrey e minha vida - Parte 1

Já parou pra pensar se você realmente vive a sua vida?
Não, não estou escrevendo um texto de auto-ajuda sobre como você, mulher independente, ainda está presa a algumas algemas do machismo opressor.
Mas pelo menos na minha vida e em algumas outras vidas - que não são minhas, mas os donos delas me contam umas coisas – tem alguns acontecimentos tão absurdos que eu paro e começo a procurar a câmera, porque eu tenho certeza que sou o protagonista do meu Show de Truman. A produção me deixou ver esse filme só pra não desconfiar.
Eu pesquisei antes de escrever isso, e vi no orkut que outras 15 mil pessoas também acreditam ter seus shows. Por favor, me poupem. Se alguém se deu o trabalho de fazer dessas vidas um programa, não conseguiu grande orçamento e a ainda será cortado por falta de audiência.
Meu show tem um grande e ótimo elenco. E ele tem toda a grade de um canal de televisão em um único programa. A parte do drama é dividida em três frentes: a mexicana, a seriado teen e a clássica. A mexicana tem seu pé na comédia e geralmente é feita por um figurante e/ou personagem secundário num momento em que a lucidez foge de seu corpo. A seriado teen é mais comum, sempre envolve mais de duas pessoas e tende a se disseminar, é a que mais dura e todos irão rir disso anos mais tarde. A clássica, ah, a clássica. Essa é a mais fina, é o auge do drama, com direito a portas batidas, canções sob a chuva e corpos na lama.
Meu show também tem a parte ecológica, onde eu entro em contato com o verde deste planeta e sou atacado por animais ferozes como cachorros, morcegos, baratas e mariposas. Tem talk-show, é claro. Apresentações e concertos ao vivo. Hum, tem a parte da culinária onde preparo pratos excepcionais e, as vezes, recebo alguns convidados.
Mas nada disso supera a parte da comédia. Tem uma cena muito boa, eu acho que foi na décima nona temporada, onde resolvi jogar sinuca com um amigo. Chegando lá pergunto o preço da ficha e a moça me fala: “é um real”. Pedi duas fichas e entreguei uma nota de dois. Ela pegou minha nota e me devolveu duas moedas de cinqüenta centavos. Eu fiquei esperando ela me entregar as fichas pra falar que ela se enganou, que me deu o troco errado. As moedas eram as fichas. Eu comprei UM REAL por dois reais. [nesse momento rola aquela risadinha de fundo]
Comecei a escrever pensando em momentos engraçados, mas acho que cansei de rir de mim mesmo e isso já ta ficando longo demais.
A única parte fraca da grade é a jornalística e no final do ano, atores consagrados vestem-se de mendigos e cantam Roberto Carlos comigo.
Relendo o texto me deu vontade de assinar como Betina Botox.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

O Preço do "Resgate"

Essa semana foi movimentada. Quinta-feira, apagão na internet. Quarta fluminense perde para o LDU. Greve dos professores da rede pública do estado de São Paulo continua. E o resgate da principal seqüestrada das FARC, Ingrid Betancourt, além de soldados americanos e outros. Álvaro Uribe saudado como herói. Estados Unidos guardiões da democracia e liberdade como nos filmes. Até o idiota do Sarkozi ganhou espaço com a libertação.

Mas, ninguém achou estranho esse “resgate”? Meses atrás, a mulher estava à beira da morte e se não fosse libertada rapidamente, certamente morreria. Pois bem, passaram-se meses, ela aparece corada, saudável e até meio gordinha se comparada a Ingrid quase decrépita do vídeo. Aí essa história da inteligência militar com uma estratégia brilhante (mais EUA do que Colômbia, obviamente) sem disparar um tiro. Depois a divulgação de um vídeo do resgate (convenhamos, um vídeo? como se se precisasse de uma prova para autenticar a operação). Aquilo tudo foi tão estranho que até a mesmo a Folha dedicou um espaço -“Pontos Obscuros”- numa reportagem sobre o resgate. Alguns dos pontos mais curiosos: A Colômbia pagou pelo resgate? A Rádio Suíça Romanda afirmou que a operação foi uma farsa e que teriam sido pagos US$ 20 milhões a César, o comandante das Farc responsável pelos reféns. E Os EUA e Israel participaram? (Esse pra mim não é tão obscuro assim.)

Enfim, há quem diga que as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia têm centenas de reféns ainda. Coitados. Tomara, pra sorte deles, que ainda tenha alguma figura política que mereça destaque ou cidadãos americanos ou europeus entre eles. Se não, temo que nenhuma linha a mais seja escrita para lembrá-los.

(Post Scriptum: Alguém viu a cena na reunião do G-8, dos presidentes das nações mais ricas e a Rússia - coitada, ela deve se sentir tão mal com essa discriminação-, com uma pá na mão plantando arvorezinhas? Patético.)

terça-feira, 8 de julho de 2008

Ignorância

Respeito totalmente os chatos, mas futebol é essencial. Como será não apreciar esse esporte? - Comecemos chamando-o de esporte. Como será ser criança e não sonhar em fazer um gol no último minuto. Melhor ainda se for o gol do campeonato. Melhor ainda se for um gol de placa que termine com uma bicicleta. Não, chato, essa bicicleta é outra.
Não gostar de futebol é um erro – comecemos chamando-o apenas de erro – que entristece uma vida. A pessoa acha que não gosta e não sente falta. Mas, de repente, sua vida tem tudo aquilo que ele queria, tudo aquilo que ele nunca sonhou em conquistar, e mesmo assim falta algo. Falta o futebol. Então para tirar um pouco da alegria de viver dos amantes desse esporte (sic), ele diz: “são apenas 11 homens atrás de uma bola” – essa frase dói mais do que qualquer bolada. A partir desse ponto começa a doença.
Como será enxergar em um jogo de futebol apenas isso? Uma falta de criatividade imensa. Os doentes olham uma bola de futebol e não vêem nada além de um objeto esférico. Não têm a menor curiosidade de chutar ela pro alto ou arriscar um drible. Indo mais além, eles assistem a um gol monumental e permanecem inabaláveis. Chapéu, caneta, a pelota lá onde a coruja dorme (isso é que é repertório) e... nada. Nenhuma reação.
A partir desse ponto percebe-se que não se trata de uma doença, e sim de uma simples ignorância. Desse modo, O futebol, mais do que um esporte, é uma arte. E não se nasce apreciando Pablo Picasso. Da mesma forma, não se nasce apreciando um belo gol ou drible. Uma ignorância tão simples quanto a escolha de ser criminoso. Falta de informação. Como todo tipo de ignorância, ela é passada de geração em geração e limita o poder de visão do indivíduo. Penso eu que isso podia ser evitado desde os tempos de escola. Todos os dias vídeos de Pelé, Puskas, Cruyff, Garrincha, Sócrates... Maradona e Di Stéfano seriam opcionais -Mas isso é uma idéia minha. É questão de fazer um gol e sentir a alegria que isso dá. Torcer por um time e vê-lo ser campeão. E daí se é uma alegria boba? E daí se isso não vai mudar o panorama de miséria no mundo?

sábado, 5 de julho de 2008

Duro de Matar - O presságio

Ah quem pensou que Bruce Willis só fazia filmes chantily, disfarçando o vazio com explosões e tiros pra tudo quanto é lado, se enganou. A última aventura de John McClane foi um presságio sobre o que viria acontecer com a rede de computadores de um dos mais importantes estados sul-americano.

(Pra quem não viu o filme: John McClane (Bruce Willis) é convocado para uma “última” missão: combater criminosos que atuam pela internet. Hackers conseguem invadir a infra-estrutura computadorizada que controla as comunicações, transporte e energia do país, ameaçando causar um gigantesco blecaute et coetera.)


São Paulo quase parou (que exagero, mas sem ele não tem graça), como ia dizendo: São Paulo quase parou nesta quinta-feira, 3 de julho. O sistema banda larga de internet utilizado por órgãos públicos, pela Polícia, por empresas, redes varejistas, bancos e por considerável parte da população paulista, caiu. O presidente da empresa, vexado, teve que em cadeia nacional (apesar do nível estadual do problema) reconhecer, responsabilizar-se, e, o mais constrangedor, dizer que não sabia a causa de todo aquele transtorno. Imagino um garotinho de 12 anos, desses que antes de falar o B-A-BÁ, já decodificam a linguagem java dos computadores, navegando e brincando de espalhar o terror na web (al qaedista, não?).

Mas já pararam pra pensar? UM. Um sistema de internet cai e grande parte do estado cai junto. O pior é que esse sistema nem público é. Não querendo dar uma de comunista anti-neoliberalismo, mas até Fernando Henrique Cardoso há de reconhecer que a situação chegou num ponto que não existe mais controle. Já começo a ouvir um burburinho: “E se privatizarmos o Estado?”

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Cenouras, Brócolis e Batatas

Pelo amor de Deus, homem, pare de se preocupar com os outros! Todos estão muito mal, realmente. Pior ainda pela sua mania de ficar estendendo a mão.
Lá vai você pensando que agora sim achou uma chance de mostrar que é uma boa pessoa. Achou um pedinte, pedindo algo, pra variar. Já que você está aí, ele pode parar de se preocupar. Como bom pedinte, a missão dele acaba aí.
Quanto a você, sua missão começa aí. Dar-lhe algo de comer, cortar o cabelo, comprar novas roupas, arranjar um emprego, dar um tapa nas costas e dizer “Agora é com você”.
Bem-vindo de volta ao que muitos chamam de vida própria. Com seus próprios problemas e cabelos pra cortar. Aquilo tudo foi até bom enquanto durou, mas é tão bom ter um tempo sozinho. Olha só, rapaz, cada coisa nova acontecendo no mundo. Saudade desse jornal (e justo agora me toca esse telefone):
-Alô?
-Mais!
-Desculpa, mas agora não dá!
Ah, o jornal. Vamos voltar para o que há de novo – falando nisso, já que tocou no assunto, eu não sei se você percebeu, mas você acabou de perder um amigo. Não sei se você percebeu também, mas seu ex-amigo não vai pagar o conserto do telefone que você jogou no chão.
Tudo que for possível pra se sentir bem. Dar uma mão pode me deixar bem. Ter gratidão pode não te deixar. Muito justo, cada um na sua. Você pode até mesmo mudar de lado e ser o cara da ingratidão.
Nem dar o peixe, nem ensinar a pescar. Todos que se arranjem, ou virem vegetarianos.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Liberdade, liberdade!

Enfim, férias! Ah, como é bom não fazer nada – quer dizer, não fazer nada sem remorso. O trabalho enobrece o homem, vá lá. Mas nem só de nobreza vive o homem. Tanto é assim que nós trabalhamos pra descansar, e não o contrário. O cantinho do café que o diga, “hot spot” dos nobres do escritório.
Todo mundo já sabe como funciona. Prometemos fazer várias coisas, fazemos algumas. Prometemos não passar um dia em vão, passamos. Dizemos que não vamos sentir falta das pessoas, sentimos.
Mesmo sabendo de tudo isso, nada melhor do que a primeira manhã de férias. É como se fosse primavera – nunca é -, ás árvores cheias de flores, os pássaros cantando. Só falta o galinho da sadia e o papai sorridente pedindo “ Filhão, me passa a margarina”.
Daí você abre a agenda e pensa “o que fazer hoje?”. Não importa na verdade o que você vai fazer, mas sim ter essa escolha. É uma liberdade tão grande. Eu não sou mulher, não posso dizer com certeza, mas nem aquele absorvente ultra-fino dá tanta sensação de liberdade. Quando eu era criança, esquecia que depois das férias ia voltar pra escola. Então, quando dava o primeiro passo fora da cadei... digo, do colégio, gritava: liberdade, liberdade!
Alegria, Alegria! Caminhando contra o vento, sem lenço, sem documento. Eu vou.
Morram de inveja.

tic tac tic tac tic tac tic tac

Triiiiiiiiiiiiiiiiiim.
Acorde para mais um dia!
Como o cotidiano é exaustivo...
Só de pensar que um dia tem 24 horas e que isso se repete sete vezes por semana já fico cansado. Ao mesmo tempo que todo esse tempo as vezes parece pouco, ele é muito. Ainda mais quando nos entregamos ao mais do mesmo que é a rotina.
Acordar nos mesmos horários, ir para o mesmo lugar, fazer as mesmas coisas e ver as mesmas pessoas. Cansei.
Então as pessoas reclamam que a vida só traz más surpresas. É claro! Dentro desse esquema da rotina só uma coisa ruim pode surpreender.
Eu quero uma vida mais aventureira.
Quero acordar e ter, no máximo, uma vaga idéia do que vai acontecer. Quero ter a incerteza, quero que ver coisas que nunca imaginei que fossem acontecer se tornando realidade.
Me realizar com o simples é um sonho, o que vier a mais é lucro.
Não quero fugir da Sra. Responsabilidade, mas o Sr. Rotina não me deixa sair dessa cela.