sábado, 19 de julho de 2008

A falta que ela me faz *

Nos primeiros dias, a sensação de autonomia e liberdade garantia uma satisfação quase plena. Como se eu me bastasse. Depender de alguém era coisa para os fracos. O fato de não ter alguém ali cuidando do que você faz, ou melhor, deixou de fazer, era os grilhões arrebentando-se.

Mas o tempo passou. A filosofia que pensei pra disfarçar a falta dela já estava desgastada. Gostava de pensar que limpando minha casa, minha própria sujeira era como se estivesse realizando uma limpeza em mim mesmo (profunda essa filosofia, não?), como se fizesse uma limpeza em minha própria personalidade. Não que eu ache indigno o serviço das faxineiras e precisasse de algo reconfortante por realizar um trabalho degradante. Nem pensar. Mas se se parar pra pensar, isso faz um pouco de sentido. Acho que todos deveriam limpar as próprias sujeiras, querendo ou não, aquilo ali era um pouco de você (existem mais sujeiras além dessa que você está pensando...).

* Do título

Tirei esse título de uma crônica do Fernando Sabino, não só o título, na verdade; mas minha crônica - bem magra por sinal: é o trabalho árduo da escolha de palavras que resumissem frases inteiras, muita objetividade e concisão – não chega a ser um plágio a de Sabino. Esta ainda dá nome ao livro do autor, “A falta que ela me faz”, você pensa que vai ser uma pieguice deslavada, aí... Muito boa a crônica dele, conta uma vez que resolveu dar férias pra empregada e passadas três semanas a casa era um lugar inóspito.
“Os jornais continuavam chegando e já havia jornal velho para todo lado, sem que eu soubesse como pôr a funcionar o mecanismo que os fazia desaparecer.” Muito bom!

2 comentários:

Paula Bastos disse...

Saiba que você não é o único. Quando faço limpeza nas minhas coisas, principalmente no meu quarto, sempre acho que estou removendo as sujeiras que guardo dentro de mim e que vezes estão conectadas à outra pessoa.
Passe a vassoura mesmo. Casa limpa cheira bem e sempre atrai novos fluídos!

Anônimo disse...

A falta que ela me faz...
Ela sabe o que deve ser tirado, o que deve ser jogado fora. As vezes a gente acha que a nossa sujeita não é bem um sujeira... nada como outra pessoa, uma visão externa, para fazer uma limpeza certa dos pontos críticos. Sujeira mental.

E a casa fica com um cheiro ótimo de lavanda... e depois de uma comida irresistível (ninguém que mora comigo resiste a tantas frangrâncias)...

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