sexta-feira, 18 de julho de 2008

Logo ao lado

Quando alguém morre e aparece nos jornais – como no caso da menina Isabela, ou dos meninos da Providência- a gente lembra que existe violência. A imprensa alarma aos berros o fim do mundo, e as pessoas param para escutar. “Oh não, ela existe mesmo, fechem as janelas e as portas para ela não entrar”. É inútil. Já está nas veias e correndo pelo corpo todo.
Violência, esclarecendo, não é só a morte de uma pessoa, o espancamento de um inocente. Tudo que foge àquilo que consideramos certo nos violenta. Um trabalhador que não tem comida para dar ao filho, isso não é violento? A violência está aí. Desde o ar poluído que respiramos às mentiras que expiramos.
Um exemplo que me deram uma vez, “se a morte de um estranho por fome não te interessa, por que ele tem que se importar com a sua morte?”. Não tem. Já dizia uma música: “para quem vive na guerra, a paz nunca existiu”. Não que não haja nada de bom no mundo, obvio que há, porém as coisas ruins não chamam atenção aos nossos olhos. Pelo menos quando não é com a gente, ou com um dos nossos.
O que se tem ao final de uma vida? Algumas histórias para contar e o luto de alguns dias? A indignação, logo dissolvida em um grande balde de conformismo?
As vezes nosso distanciamento desses fatos trágicos nos impede de ver o que é uma vida. Memória, sonhos, esperanças, tristezas, ilusões, a infância, a adolescência, a fase adulta, a velhice, ter um filho, plantar uma árvore, escrever um livro.
Um corpo caído não é nada comparado a dois corpos. Três corpos. Os batimentos cardíacos abaixam, perde-se o calor da pele, e só. O sistema é o mesmo para todos. De suas diferenças que o tornavam especiais para alguns, sobrou apenas a similaridade no modo de morrer. Não devia ser ninguém de importante, nada a acrescentar ou a diminuir para a humanidade. Pelo menos, assim se presume. E pra frente com o Carnaval!

Um comentário:

Anônimo disse...

Que bacana. "A violência está aí. Desde o ar poluído que respiramos às mentiras que expiramos." Poesia em prosa. Crônica muito boa.