sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Mais uma sobre tempo

Quando criança, todo mundo pergunta o que a gente quer ser quando crescer. Quando a gente cresce, só a gente se pergunta isso. Os planos se desgastam e aparecem outros. Na data combinada de se divertir a gente se aborrece, e no meio do tédio a gente se diverte. O destino, o tempo, ou seja lá o que for, tem uma ironia sarcástica e deselegante. Um revoltado com isso foi o João.
João queria ser médico e viajar o mundo. João foi comunista, foi extremista, foi direitista. Foi solteiro, casado, divorciado, noivo. Andou de trem, andou de ônibus, andou de carro, andou a pé. Morou de aluguel, construiu uma casa, morou em hotel, morou com os pais. Ganhou muito, ganhou pouco, o suficiente, não ganhou nada. Teve um cachorro, um gato, uma cobra, uma aranha, ou bicho nenhum. Foi otimista, pessimista, realista, religioso. Acreditou em sorte, depois em destino, depois em destino e sorte, depois em sei lá o que. Teve poucos e bons amigos, muitos e bons amigos, nenhum amigo, seu pai e sua mãe. Foi João, foi José, Maria, Pedro, César, Rodrigo e Luis Henrique. Foi advogado, médico e jornalista. Nunca saiu da cidade e nunca soube dar uma injeção.
Em geral, o tempo é mais forte do que os planos – em geral. Por isso mesmo, cada dia mais a gente quer conhecer o tempo. A ciência também não consegue explicá-lo. O que se sabe é que o espaço-tempo é curvo e altera qualquer trajetória que queira ser linear.

3 comentários:

Heloísa A. S. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Heloísa A. S. disse...

Muito bom texto. :)

Murillo Bocardo disse...

obrigado, Heloísa. Seja bem vinda pra comentar sempre que quiser.