quinta-feira, 5 de junho de 2008

Gente gentil

Tinha acabado de sair da faculdade, o professor tinha terminado a aula perto das onze horas, ou seja, eu ia ter que ir embora de ônibus. Como dizem por aí, uma desgraça nunca vem só, além de sair tarde da faculdade e ter de ir embora de ônibus, estava com uma baita fome e em casa não tinha o que comer. Desci no ponto perto de casa, uma praça, e logo um cheiro de fome me invadiu. Era uma daquelas praças com trailers de lanches, churros, pizzas etc. Aquele cheiro de hamburger e bacon frito, tudo bem gorduroso, dão uma vontade impressionante; por mais que você saiba que aqueles lugares não são muito confiáveis, não por serem de pessoas mal-intencionadas, mas por serem lugares sem quase nenhuma condição de...higiene mesmo, além da ditadura econômica impor quase sempre a opção pelos produtos mais baratos que, às vezes, coincidentemente (sem muita ironia), são os de pior qualidade. Enfim, era quase impossível não ceder ao apelo do estômago, e em casa não tinha nada mesmo, decidi comer um lanche. Já que era pra encarar o negócio, fiz um pedido de acordo: X – Bacon, com direito a catchup, mostarda e maionese (sempre que eu como esses condimentos lembro da cena do “Clube da Luta” que o personagem do Edward Norton chega no prédio em que ele mora, e o apartamento dele acabara de explodir, todas as suas coisas na rua, a mesinha no formato Ying-Yang e todos aqueles condimentos...), continuando, o lanche, com aquele bacon gritando gorduras tran-saturadas e bastante colesterol, aqueles que diminuem um pouca nossa longevidade...Para acompanhar, o símbolo capitalista do imperialismo americano, já que estava celebrando a displicência da dieta porque não estender para a ideologia, uma Coca-Cola! Bem, foi, mais ou menos, aí que minha noite começou a mudar. Eu pedi uma coca à moça do trailer e ela me disse que tinha de lata e de garrafa de 600 ml. Como na maioria dos lugares a lata não valia a pena, pela menor quantidade e o preço nem tão menor assim, mas eu não estava com tanta sede, era só pra acompanhar o lanche...Mas, acabei ficando em dúvida sobre qual das duas. Foi aí, que a moça do trailer percebeu minha hesitação sobre a escolha e, gentilmente, me explicou a vantagem de comprar a garrafa. Eu achei aquilo tão bonito. Ela lá, dentro daquele lugar de 1 metro por 3, fritando hamburger pra ganhar a vida (não que eu ache isso indigno, mas convenhamos, não é o sonho de ninguém fritar hamburgeres numa praça pra sobreviver) mas, mesmo assim, ela mantinha o bom humor e a educação com clientes, e, ainda, conseguia ser gentil no meio daquilo tudo. E eu, saindo de uma universidade, sendo paitrocinado para só estudar e com muitos outros confortos não tão necessários assim, reclamava da vida. Aquela mulher me explicando a vantagem de comprar uma coca-cola de 600 ml, ao invés de uma lata, me lembrou que ainda existe humanidade na humanidade. Comi o meu X – Bacon bem gorduroso, com bastante condimento, tomando a minha coca-cola de 600 ml, e voltei para minha casa, pensando na vida.

Um comentário:

Paula Bastos disse...

Realmente, às vezes banalizamos o que os outros dizem ou fazem. Quantas pessoas não pensam que ela está ali, fazendo o que pode, procurando vencer, matando um leão a cada dia e que ainda assim, ela encontra forças pra te dar simpatia quando ela simplesmente poderia te ignorar.
E essa é uma das belezas de coisas aleatórias que nos acontecem quando poderíamos deixar de observá-las com olhos mais atentos. Parabéns pela reflexão. Talvez o mundo seja bom, Sebastião.