sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Partículas Cristalizadas

O ar possui mais propriedades químicas do que a química desconfia. Os olhos sugerem um grande vazio inócuo, coisa que até hoje nós não aceitamos. Como é possível o ar ser tão leve e, em alguns casos, tão pesado?
A resposta, como diria Dylan, está voando no ar.
Enfim, hoje esse mesmo ar estava cinza. E ao cinza aderiam milhões de gotas, caindo em polvorosa. À luz dos faróis, esquivando-se das gotas, as partículas do ar tornavam-se bem visíveis.
Essas partículas, ao pouco, se uniram e se cristalizaram. E com elas, cristalizou-se tudo – pelo menos tudo que eu podia ver. Meu campo de visão tornou-se um cubo de gelo.
Com o cubo entre os dedos, um passante distraído poderia facilmente identificar algumas tonalidades de cinza. Poderia botá-lo em sua xícara de café. E, liquefeito, meu cubo de gelo não faria o menor sentido.
Cabia a mim aproveitar meu instante, eu não estava cristalizado e podia voar por entre o sólido – na verdade nós mesmos somos um elemento químico muito estranho. Basta olhar.

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