quarta-feira, 15 de outubro de 2008

O inferno são os outros

por Gustavo Stevanato

Eu acho que não gosto muito das pessoas. Nada contra elas. Ou tudo contra, na verdade. As pessoas são chatas demais. Precisam de favores, dependência, plantões, noites mal-dormidas e companhia nos dias de menor inspiração. Parece-me que fora de relacionamentos, ainda sustento vários. E o pior compromisso é saber que elas se importam com você – e não dormem com você.

Não que pense que morrer sozinho seja uma boa idéia – e também não quer dizer que a descartei – mas é que as pessoas se realmente acreditam que me importo. De verdade? Não. Os ombros molhados, as contas quilométricas do café e os porres nas festinhas não vão me fazer gostar mais de você. Eu não desprezo as outras pessoas, se outrora pensasse em alguma delas, decerto desprezaria. Mas agora não.

Não estou pegando pesado, a critério, bem leve – quando a rigor não queria nem tocá-las. Talvez o lapso de adoração que tenho pelas pessoas é saber que elas são fáceis de abandonar. Indiferentemente. Nós perdemos pessoas todos os dias, e quiçá, por todos os minutos. Sem nenhum remorso. E é isto que as faz por minutos suportáveis interessantes. Saber que elas irão embora.

E quando elas não vão, eu vou. De caso pensado. Sem desculpas de ir ao toalete ou promessas que voltarei depois ou que vou ligar no dia seguinte. Viro as costas e desapareço nos frangalhos da comunicação e do que mais ficou a frente dos meus pés. Não fico mais suspenso em expectativas. Elas não significam nada para mim. Um último toque e irei embora, e vamos fingir que significou algo muito maior - quando na verdade foi menos do que insuficiente.

Nós mentimos, ou pelo menos eu o faço sem pesar algum. Quando respiramos fundo demais, quando jogamos o olhar para as banalidades dos instantes ou bebemos copiosamente um copo vazio e sempre, sempre quando hesitamos e engolimos o caráter e alguma dignidade a seco. Mas nunca quando ruborizamos. E parece-me a vergonha o sentimento único do mundo em verdade. Não que de fato, acredite que a verdade é de longe a solução de todos os problemas. Na verdade, é a causa mortis deles. Desde as verdades dita em horas impróprias sob a graça de uma gafe a mais cristalina e transparente das verdades que acompanham as formalidades e os casais em seus escândalos, copos quebrados e alianças tomando vôo pelas janelas.

E decerto, é inevitável que todas as pessoas mintam. Assim como evitar o mau-humor no café-da-manhã ou o câncer batendo em sua porta. O que diferencia as pessoas uma das outras é um motivo – e quando não único, a situação fica cada vez mais interessante.

E não deixamos de amá-las ou odiá-las por isso. Ao contrário. Devolvemos fascinação aos canalhas e vangloriamos os bandidos. Mas ainda me parece o ódio muito mais divertido. E rende ótimas e fugazes conversas, porque falar mal das outras pessoas pode parecer sempre errado, mas nunca um engano.


(Sebastião Lisboa está de férias)

22 comentários:

Anônimo disse...

"Nós perdemos pessoas todos os dias, e quiçá, por todos os minutos. Sem nenhum remorso. E é isto que as faz por minutos suportáveis interessantes." Bom saber que tudo nunca passou de uma farsa. Genial. E que a cada dia, nos tornemos mais interessantes uns para os outros.

Unknown disse...

você é uma vergonha, sebá!
uma semana sem postar e ainda manda outro.

vou colocar a foto que me der na telha! hum... telhas...

david santoza disse...

interessante.
confuso, mas interessante.

Anônimo disse...

Porra, se você, caro Gustavo Stevanato, se vangloria tanto de não gostar das pessoas e desta companhia desprezível, porque não desaparece, vai morar no topo de alguma montanha, deixar o cabelo crescer e não tomar banho, longe de toda esa humanidade fétida e nojenta que te cerca? Em suma, torne-se um ermitão.

Minto, é melhor que você fique por perto, afinal, falar mal dos outros é o que mais nos causa prazer, não?

Murillo Bocardo disse...

muito bom, rapaz.
em alguns momentos, muito muito bom.

Gustavo Stevanato disse...

confiem em mim. minha barba não crescerá.

Gustavo Stevanato disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
david santoza disse...

olha! um comentário excluído!

sinal de arrependimento...
palavras duras podem machucar, não é mesmo?

Gustavo Stevanato disse...

é, palavras duras podem machucar.
mas não guardo rancor algum, boludo. não desejo mal para você ou para seus filhos deformados.

Gustavo Stevanato disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Gustavo Stevanato disse...

aliás, te desejo toda a felicidade e pessoas do mundo. que vocês se abracem, se amem e explodam juntos.

Gustavo Stevanato disse...

e pessoas, podem continuar a comentar - inclusive você, boludo. mas saibam que não estou ouvindo. duvido mesmo que um dia estivesse ouvindo.

Renata Penzani disse...

simplesmente bolinha. economizando colheres de açucar, sempre.

Anônimo disse...

A seção COMENTÁRIOS, extraordinariamente, é destinada aos comentários. Senhor Gustavo Stevanato, o viciocronico, gentilmente, cedeu um espaço para o seu texto. Para o texto. Se você quiser um espaço para "discussões", crie um blog. É simples, tem um passo-a-passo,é bem didático. Boa sorte!

Anônimo disse...

Fugindo à polêmica, o que mais me chamou atenção foi a parte da mentira. A mentira é essencial para que se mantenham as relações sociais e afetivas. Sem a mentira, eu não suportaria. A não ser que as pessoas fossem mesmo dispensáves - ou não.

Gustavo Stevanato disse...

agradeço o espaço cedido ao meu texto, querido Sebastião(?). e também acho válido os comentários referentes ao texto. todavia, críticas ao autor como presenciamos ou lembretes como o seu podem ser direcionados ao meu e-mail pessoal e, assim que possível serão respondidos por mim, com a ênfase necessária a cada comentário ou lembrete.obrigado e disponha da minha simpatia e dos meus textos quando quiser.

Anônimo disse...

[i]"aliás, te desejo toda a felicidade e pessoas do mundo. que vocês se abracem, se amem e explodam juntos."[/i]

rsrs

níti é uma bosta mesmo...

Anônimo disse...

"aliás, te desejo toda a felicidade e pessoas do mundo. que vocês se abracem, se amem e explodam juntos."
É estranho você escrever isto, caro Gustavo, porque você também faz parte desta "miserável e odiável humanidade", tanto por ser uma pessoa como por viver por perto delas, por relacionar-se a elas, por odiá-las, enfim, por nutrir sentimentos por esta classe de indivíduos chamada humanidade (aliás, odiar é um sentimento bem humano, coisa que você não deve gostar de ser MESMO)
Bem, a sua única saída possível desta "horrível" condição é se matar, e quem sabe reencarnar como um animal ou algo do tipo (isto se você acreditar em reencarnação, claro)

Gustavo Stevanato disse...

boludo, até então duvidava da reencarnação, mas você é a prova definitiva que as pessoas podem reencarnar em animais, mais precisamente em burros, porque ainda insiste nestes ataques inócuos e sem fundamento. querido, acredito que mais uma vez você deu com os burros na água - você sabe nadar?

e outra. percebo realmente que o ódio é um sentimento inerente as pessoas, diria intrínseco. e, não me surpreende vendo seus comentários que a burrice também -
bolete é sua faceta além de estúpida, ignorante?

Gustavo Stevanato disse...

para mais ataques pessoais e críticas idiotas ao autor, em respeito ao blog, guardem para vocês. este espaço não é para isso - como já citado por anteriormente.

críticas ao texto são bem-vindas.
para os restantes, posso mostrar a porta da saída.

Anônimo disse...

bolete é meu amante, amorzinho.

Felipe disse...

Gostei, sim, do texto Gustavo. Mas me guardo o direito de, ainda, achar que os humanos do tipo "gente" não são assim assim. Talvez eu esteja errado, acho que estou, mas tenho, esperança de que tem tanta gente, tanto jeito, tanta coisa... rs, e tristeza (daquela que tem esperança de um dia não ser mais triste) em saber que nós, TAMBÉM, somos: assim.
Muito bom, o viciocronico tem se mostrado um blog inteligente e disposto a criar, talvez inovar. Acho desnecessário certos tipos de "críticas" (?), apelações... porém o espaço é livre pra qualquer comentário. É preciso segurar a barra, rs. Mas, Bolinha, causou polêmica...rs...natural...o conteúdo era tenso mesmo, porém acho legal lembrar que um conto ou crônica (seja lá o que a imaginação comandar!) não expressa, necessariamente, ou verdadeiramente, a opinião, vida, ou seja lá o que for do autor do texto. Liberdade Poética, talvez. Imaginação. (De verdade, não quero dar sequência à polêmica, apenas cumprimentar o pessoal do vicio pelo blog!) É isso!