sábado, 10 de janeiro de 2009

As insanidades de Papai

Meu pai era um médico com difícil acesso à alma infantil. Certa vez ele me ensinou:
- Consegue ver a cavidade craniana no desenho? É ali que fica a inteligência das pessoas. No caso do seu tio, o Tico e o Teco que moravam ali brigaram.
Foi assim que ele explicou a internação de um parente em um sanatório. (Tio Léo, mais tarde apelidado maldosamente de Tio Leléo). O fato é que meu tio, depois de alguns desapontamentos financeiros e amorosos, havia surtado.
Enfim, o que vem ao caso é meu pai e a metáfora dele. Aquela imagem do cérebro, povoado de pensamentos, nunca saiu da minha cabeça.
Durante muitos anos, acreditei na história do Tico e Teco. Mais tarde, numa fase mais Pink Floyd, imaginava minha alma perdida nadando no aquário da minha cabeça.
A essas, seguiram-se outras teorias sobre minha mente, de acordo com meu momento na vida.
Hoje, velho e pervertido, vejo a cabeça como uma residência de ilusões, um palco de cabaré. As dançarinas de can-can entreteram meu tio por um tempo, depois deram-se as mãos, agradeceram e foram embora.

Nenhum comentário: