quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Enfermos

- Desculpe pelos gritos.
Foi assim que começou. Não o melhor começo, mas, enfim, foi esse aí.
Ela na cama do lado fez uma piada, alguma coisa sobre os homens serem intolerantes a dor. Eles riram, tossiram, riram e voltaram a tossir – é assim que os doentes gargalham.
Ficou estabelecido logo de cara que não falariam de suas doenças. Quer dizer, um não iria saber do que o outro sofria. E também, existem conversas mais agradáveis e mais românticas do que essa.
Outra coisa, também virou regra que não se veriam por detrás do pano. Era tudo muito platônico. E aquele pano separando os leitos servia para que um não visse as máquinas que mantinham o outro vivo, no caso de elas existirem, é claro.
O caso é que não houve no mundo namoro mais certo. Era tudo muito bonito. Aqueles braços pálidos se alisando eram motivo de conversa no hospital todo. Quantas enfermeiras não ligaram para seus namorados cobrando mais amor. E quantas não desejaram estarem também doentes.
Era tudo também um pouco triste. Enquanto um fazia seus exames, o outro tentava distraí-lo da dor. Quando a situação fazia-se mais séria, o outro não agüentava e botava o volume da TV no máximo.
Acontece que era assim mesmo. O “um” estava sempre mal, e o “outro” permanecia estável. Até que um dia o médico disse aos berros:
- Não dá mais para adiar. Você precisa dessa cirurgia pra já!
Por uma noite e um dia eles conversaram. Foi confessado que o caso de um era gravíssimo, terminal . Já o outro, não. Para ela, alguns antibióticos lhe bastariam.
Na noite seguinte, véspera de sua cirurgia, ele se desgarrou de seus aparelhos e deitou-se no leito ao lado.