quarta-feira, 27 de maio de 2009

Vocação

Que inveja eu tenho do florista. Sujar as mãos - e até as unhas - de terra, não me importariam. Terra sai fácil, com água corrente mesmo. A tinta mancha. Agarra-se à pele. É um quê fazer pra tirar. E as flores você não precisa explicar pra vender. Descrever-lhes as qualidades: esse é um autêntico lírio, da família das Liliáceas, encantando as pessoas desde Confucio; e bendito desde Cristo, nas palavras de São Matheus "Olhai os lírios do campo; eles não trabalham nem tecem; no entanto eu vos digo: mesmo Salomão, em toda sua glória, não se vestiu como um deles". Quem não quisesse comprar, estúpido que fosse. Ah e eu não teria que ficar lendo poesias pra agüentar o expediente. Talvez apenas O guardador de rebanhos, mas só para lembrar delas e largar o livro. E eu leria no livro e não no computador, assim quando eu fosse deitá-lo ao lado, realmente eu o deitasse ao lado. Não clicar num X que faz desaparecer o que vejo na tela (por que o X será hein?). Os outros itens até que lembram o que causam, digo a janela ficar maior ou menor: tem duas janelinhas, se bem que do mesmo tamanho...Bom, mas não serei ingrato ao computador já que me sirvo dele, agora. Além do que, numa floricultura, eu não me perderia nessas divagações estúpidas que tanto me comprazem a inteligência. Eu não precisaria me sentir inteligente. Ficaria lá, escravo dos sentidos.

Um comentário:

Anônimo disse...

Ora, mas já foste florista para saber que não é preciso de inteligência para sê-lo? Ou que um florista não se perde em divagações também? Talvez sua ideia de florista seja apenas uma ideia, nao mais que uma ideia.

abraços!