domingo, 24 de maio de 2009

Na saída do restaurante, uma mulher quase deitada pede esmolas. “Não tenho dinheiro, eu marco nesse restaurante...” As esmolas atrasam a revolução. Falsa caridade. Vaidade. É fácil jogar uma moeda e se sentir bondoso, filho de Deus, companheiro do sofredor. Anestesia social. Mas repetir isso pra mim mesmo não me deixa melhor. Pra falar a verdade, me sinto mais mesquinho ainda. Porra, uma moeda.

Alguma quadras abaixo, na entrada de um estacionamento, uma mulher observa triste um cone obstaculizando o portão: está lotado. Minha compaixão é muito grande, não distingue classe ou cor. Dirige-se dessa vez à mulher do carro. Sinto vontade de tirar o cone “Entre!, esqueceram de um lugar ali...” Mas ia ser pior. Medida paliativa. Pioram as coisas, depois. Imagino-a manobrando puta o carro e me xingando.

Medito sobre o ocorrido. Parábola marxista. Talvez minha moeda equivaleria a ação de tirar o cone do caminho. Mais pra frente as duas iam se fuder. O que fazer então? Nada? Me acusariam de conformista...”Todo o mal do mundo vem de nos importarmos uns com os outros,//quer para fazer bem, quer para fazer mal.” Alberto Caeiro. Ah quantos argumentos para ser mesquinho.

Um comentário:

grazi shimizu disse...

sentimento mais coletivo do que eu imaginava, mas bem menos do que tinha que ser...