quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Salão de Beleza

Aos 7 anos, parecia simplesmente que seus assuntos de criança não interessavam em nada à atribulada mãe. Com o pai no trabalho, sentia um vazio de carinho.
Quando um dia a mãe a convidou para passear, tudo mudou.Foram ao salão de beleza. Aquele ambiente parecia trazer às mulheres presentes uma sensação de liberdade para desabafar. Uma liberdade reforçada pelas horas e horas que demoravam os tratamentos capilares.
Foi uma grande surpresa. Nunca ouvira sua mãe falar tanto e tão alto. Um verdadeiro muro de lamentações.
Como uma jornalista investigativa, a menina passou a seguir a mãe nesses encontros. Observava entre os interesses da mãe, aquele que rendia maior tempo de conversa. Como sempre, “nos falta dinheiro”. “Precisamos de dinheiro”.
Daquela primeira visita, passaram-se anos. A diferença da menina era sensível. Ela era agora um pedaço da mãe. Um papagaio de pirata, pronta a repetir as palavras que a genitora proferisse. Sua relação com o pai mudara de maneira proporcionalmente inversa. Sentia um certo asco daquele homem, desde sempre incapaz de sustentar uma família classe média.
Já moça, a menina soube dos lábios do pai a notícia esperada: havia sido promovido, tudo iria mudar pra melhor. Antes de abraçar o pai, foi ao encontro da amiga de confidências, que estava no salão.
Ouviu espantada o descontentamento da mãe. Dizia ela que, na verdade, nunca haviam sido de fato pobres. A mãe ainda acrescentava:
- Ele que não me venha agora se atracar com uma interesseira.

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