Sentou ensopado no banco de trás e voltou-se a suas meninices. As vozes dos bancos da frente debatiam as estranhezas dos vizinhos ou a falta de habilidade dos motoristas. Olhou para a janela, tentando esquecer o tédio do caminho sem grandes novidades. Dia após dia, ele decorara o trajeto. A lombada exagerada que fazia o carro pular, a árvore grande que fazia sombra na calçada inteira, um prédio de seis andares, outro de sete...
Atentou, então, para as gotas que caiam com insistência sobre a janela embaçada do carro. Com a mão espalmada, alisou criteriosamente todo o vidro, como se desse tchau a alguém do outro lado da rua. A superfície, agora transparente, mostrava um desenho de listras feito pela água. Imaginou no quadro uma corrida, sendo as gotas de água as competidoras. A pista era simples, começava na parte alta da janela e acaba quando esta se fundia com o corpo metálico da porta – a gravidade, como se vê, é inquestionável.
Olhava agora fixamente para pares ou trios de gotas, sempre imaginando qual delas sairia triunfante do combate. Vez ou outra, uma das gotas somava-se a outra e perdia por desistência o resto da corrida. Havia também aquelas que aceleravam e explodiam à toda nas poças que recepcionavam, deslumbrantes, as corredoras vitoriosas. A corrida rendeu poucos minutos de distração, o vidro zebrado já voltava agora à sua face não tão transparente, como se o mal tempo ameaçasse o fim da corrida e a prova tivesse que ser interrompida.
Foi quando percebeu que as linhas feitas pelas competidoras eram diferentes, apesar do caminho previamente escolhido pela física. Algumas gotas escolhiam um lado e esqueciam da chegada. Outras pareciam indecisas, iam e voltavam de um lado para o outro. Nenhuma, porém, girava em círculos. Nenhuma dava meia volta e disparava em direção ao ponto de largada. Mesmo assim eram muito interessantes, notáveis em sua coragem de não ficar na preguiça, de não cair e decidir ficar por ali mesmo. Incrível como, mesmo assim, todos os outros prestavam atenção nas estranhezas dos vizinhos.
sábado, 31 de maio de 2008
quarta-feira, 28 de maio de 2008
A primeira (apesar de terem queimado a largada...hehe)
Hoje, inauguramos o nosso blog de crônicas. Quando digo “nosso”, me refiro, também, aos leitores (quem, tomara, não sejamos nós mesmos) do blog. Mas, não utilizarei a primeira do plural sempre, porque não sou tão altruísta assim. Farei dessa forma porque não quero negar ao leitor seu devido papel (mas também não vou bajulá-lo pra conseguir uma passada de olhos), é, mais ou menos, assim: quem escreve o faz para descarregar no papel um pouco daquilo que não consegue guardar pra si mesmo, emoções, pensamentos, reflexões, seja o que for; o leitor se carrega dessas coisas (minha explicação está tirando toda a beleza da leitura, né?) mas acho que funciona um pouco por aí, é claro que não é só isso...
Esse blog nasceu um pouco da nossa necessidade de escrever, que vem um pouco da obrigação (por fazermos jornalismo) e um pouco do prazer mesmo, o caderno aceita tudo, não importa que seja bom ou ruim, não critica, não reclama...Por falar nisso, não temos a pretensão de que nosso conjunto de crônicas um dia vire livro (mas se virar também, não tem problema algum), temos a preocupação de escrever coisas legais, que levem daquele riso de canto da boca até alguma reflexãozinha, escrever sobre coisas que aconteceram numa manhã, de terça-feira, na fila do pão e que chamou a atenção, sei lá...escrever. Tem uma frase do Saramago bacana, em que ele diz:
"Não fui desses gênios que, aos 4 anos de idade, escrevem histórias. Apenas via as coisas do mundo e gostava de vê-las., Nunca fui de grandes imaginações. Eu não me interessava por fantasias, mas pelo que ocorria. A imaginação, o que dizer a respeito dela? Meus livros estão aí para provar que a tenho.
Eu também vejo as coisas do mundo e gosto de vê-las, e, também, de escrevê-las. Quem sabe um dia não chego a Sa...não, não vou me comparar a Saramago. Mas, como ele mesmo disse, "Nao fui desses gênios que, aos 4 anos de idade, escrevem histórias ", acredito que existam pessoas talentosas, com dons sei la, mas eles não são necessariamente os melhores, estou dizendo isso porque uma vez me disseram que para escrever crônicas tem que ter talento, acho isso uma besteira. Aposto que um dia, até a Danuza Leão tropeçava quando escrevia. Que este blog desmistifique um pouco toda essa história de talento. Cronista não é nenhum título de lorde inglês, qualquer um pode sê-lo, basta tentar! (Ficou muito "auto-ajuda" esse final né?, vou refazê-lo...), basta escrever qualquer coisa e chamá-la de crônica, desde que ela não seja poesia, conto, novela, romance, artigo, resenha, cordel, etc...
Esse blog nasceu um pouco da nossa necessidade de escrever, que vem um pouco da obrigação (por fazermos jornalismo) e um pouco do prazer mesmo, o caderno aceita tudo, não importa que seja bom ou ruim, não critica, não reclama...Por falar nisso, não temos a pretensão de que nosso conjunto de crônicas um dia vire livro (mas se virar também, não tem problema algum), temos a preocupação de escrever coisas legais, que levem daquele riso de canto da boca até alguma reflexãozinha, escrever sobre coisas que aconteceram numa manhã, de terça-feira, na fila do pão e que chamou a atenção, sei lá...escrever. Tem uma frase do Saramago bacana, em que ele diz:
"Não fui desses gênios que, aos 4 anos de idade, escrevem histórias. Apenas via as coisas do mundo e gostava de vê-las., Nunca fui de grandes imaginações. Eu não me interessava por fantasias, mas pelo que ocorria. A imaginação, o que dizer a respeito dela? Meus livros estão aí para provar que a tenho.
Eu também vejo as coisas do mundo e gosto de vê-las, e, também, de escrevê-las. Quem sabe um dia não chego a Sa...não, não vou me comparar a Saramago. Mas, como ele mesmo disse, "Nao fui desses gênios que, aos 4 anos de idade, escrevem histórias ", acredito que existam pessoas talentosas, com dons sei la, mas eles não são necessariamente os melhores, estou dizendo isso porque uma vez me disseram que para escrever crônicas tem que ter talento, acho isso uma besteira. Aposto que um dia, até a Danuza Leão tropeçava quando escrevia. Que este blog desmistifique um pouco toda essa história de talento. Cronista não é nenhum título de lorde inglês, qualquer um pode sê-lo, basta tentar! (Ficou muito "auto-ajuda" esse final né?, vou refazê-lo...), basta escrever qualquer coisa e chamá-la de crônica, desde que ela não seja poesia, conto, novela, romance, artigo, resenha, cordel, etc...
quinta-feira, 22 de maio de 2008
eu tenho vícios. vários vícios.
um deles é tentar ser filósofo e entender as coisas desse mundo. outro dia durante uma festa qualquer, enquanto não tocava o alarme de nenhum outro vício, comecei a filosofar. percebi uma pessoa falando que queria largar o cigarro. reparei que sempre tem alguém querendo largar algum vício. vício não, desculpe, mania! não tem eufemismo melhor para vício que mania.
e durante o pensamento filosófico, veio a epifania. descobri a cura para o vício! não adianta querer largar o vício, arrume outro. pra moça do cigarro eu podia ter falado pra largar o cigarro e começar a abraçar estranhos. sem crise de abstinência.
e essa moça estava com uma amiga dela que fez tocar o alarme de outro vício e parei de filosofar. eu tenho o vício de fazer planos mentais com desconhecidas que me agradam. e ela estava lá com seu all-star branco. percebi que ela não estava se descabelando como os outros enquanto tocava dança da manivela. logo vi que era mais caseira, programa mais barzinho-cinema. gostei, gostei mesmo. já fiz reservas mentais pra gente nas serras gaúchas em julho.
bom, agora dá licença. vou entrar no orkut pra ver meus scraps.
não, não. isso não é vício. é só uma mania.
um deles é tentar ser filósofo e entender as coisas desse mundo. outro dia durante uma festa qualquer, enquanto não tocava o alarme de nenhum outro vício, comecei a filosofar. percebi uma pessoa falando que queria largar o cigarro. reparei que sempre tem alguém querendo largar algum vício. vício não, desculpe, mania! não tem eufemismo melhor para vício que mania.
e durante o pensamento filosófico, veio a epifania. descobri a cura para o vício! não adianta querer largar o vício, arrume outro. pra moça do cigarro eu podia ter falado pra largar o cigarro e começar a abraçar estranhos. sem crise de abstinência.
e essa moça estava com uma amiga dela que fez tocar o alarme de outro vício e parei de filosofar. eu tenho o vício de fazer planos mentais com desconhecidas que me agradam. e ela estava lá com seu all-star branco. percebi que ela não estava se descabelando como os outros enquanto tocava dança da manivela. logo vi que era mais caseira, programa mais barzinho-cinema. gostei, gostei mesmo. já fiz reservas mentais pra gente nas serras gaúchas em julho.
bom, agora dá licença. vou entrar no orkut pra ver meus scraps.
não, não. isso não é vício. é só uma mania.
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