quinta-feira, 2 de julho de 2009

anáquiro

sinto que está acabando. faz quanto tempo? comemoramos alguma data há uns dois meses... desculpe, estou tão embriagado enquanto você me encara - também já sabendo que é o fim. não consigo lembrar de nada nesse momento.

você me pergunta o que iremos fazer e com as palavras uma lágrima escorre pelo seu rosto. sinto que devo interromper sua queda com uma mão enquanto a outra ergue suavemente seu rosto pelo queixo para que nossos olhos se encontrem e decidam entre si a resposta para a sua pergunta. com a coragem que falta em nossa fala, encontram um caminho que podemos seguir juntos e fazem um pacto, selado por meus braços que trazem você pra dentro deles e te conforta entre os soluços.

hoje eu sei que tudo acabou quando deixei aquela lágrima escorrer até encontrar o canto de sua boca.

e minhas mãos começaram a me incomodar. já não sabia o que fazer com elas enquanto você aguardava a minha resposta durante aquele instante que pareceu durar por anos. percebo que você não sabe para onde olhar enquanto esperava e começa a olhar para as minhas mãos que guardo nos bolsos de forma nervosa.

o movimento faz você olhar para mim com uma firmeza no rosto, cortado pelo rastro da primeira lágrima, que logo desmorona em mais pranto. de alguma forma você tinha encontrado a resposta em meu rosto.

você me abraça com uma desesperada força que eu não conhecia. eu fico imóvel, com as mãos ainda no bolso, já carregando essa frieza que me acompanha desde então. minha imobilidade acaba quando percebo que você vai se afastar e te seguro ali por mais um momento. com um braço na cintura e outro em seu pescoço. sussurro em seu ouvido novas promessas que não são as respostas que procura. antes de me deixar sozinho ali sentado, o último - e talvez o mais verdadeiro - beijo.

instantes depois, outro par de olhos expulsa lágrimas, que escorregam até encontar as suas em minha camisa borrada por sua maquiagem.

meses passaram e aqui estou novamente pensando em tudo o que aconteceu. preciso tirar essa angústia de mim. percebo que as garrafas vazias de nada valeram. preciso fazer isso de outra forma.

procuro loucamente pelo quarto um caderno.

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