sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Ao lado

Atravessou triste o corredor e entrou no apartamento. Tomou coragem e começou a escrever:
“Eu vou sentir saudade de tudo. É muito estranho, mas é verdade.
Por exemplo, as voltas pra casa. Eu sei que eu ia pro trabalho reclamado da rotina. Mas no final do dia eu queria saber que você iria estar aqui do lado. E você sempre estava. Eu vou sentir saudade da certeza.
Saudade também da incerteza, por que não?
Eu podia até não pensar em você. Mas daí você aparecia. Depois disso, o dia não era mais o mesmo. Eu passava dias pensando quando você ia aparecer de novo. Eu vou sentir saudade de torcer pra que você aparecesse.
Você completava o meu dia como ninguém.
É o fim que dá graças às coisas. Realmente, agora eu vejo que você era importante pra mim. As pessoas não são como você. Será difícil achar outra igual. Até lá, eu vou ter que sentir saudade.
Saudade até dos pequenos momentos. Os atrasos. Eu trancava meu apartamento e você o seu. Só nesses atrasos é que eu dividia o elevador com você.
Saudade de você moça. Queria ter sabido seu nome. Queria você no corredor pra me dar mais um ‘oi’. O seu ‘oi’ nunca me julgou, minha grande amiga”
Abriu a porta e deixou o bilhete debaixo da porta vizinha. Junto com as contas que o caminhão da mudança esqueceu de levar.

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